Aroldo Murá Gomes Haygert (1940-2023)

Aroldo Murá Haygert: semeador de perfis/foto: reprodução/Facebook

A intensa e produtiva trajetória do jornalista Aroldo Murá Gomes Haygert, o Professor, encerrou-se materialmente neste 3 de janeiro, ele vencido por um câncer contra o qual lutava há mais de um ano. Mas seus ensinamentos e sua consistente obra acumulados em mais de 60 anos de profissão ficarão como um legado perpétuo para as novas gerações.

Em agosto de 2022, neste mesmo blog, em artigo sobre o lançamento do 13º volume de “Vozes do Paraná – Retrato de Paranaenses”, qualifiquei-o de “semeador de perfis”. Afinal, essa robusta coleção, organizada ao longo dos últimos 15 anos, acumulou quase 300 perfilados, entre eles pessoas/personalidades e também empresas/instituições de destaque no cenário paranaense. E o Professor foi (é) a voz de todas essas vozes, eternizadas em caprichosas edições.

Aroldo Murá trabalhava também em outra importante obra, cujo título seria “Encontros do Araguaia”, nome sugerido pelo seu grande amigo e parceiro Fábio Campana (1947-2021). O título, que à primeira vista lembra a guerrilha do rio Araguaia, nos tempos do governo militar, remete, na verdade, ao edifício de nome Araguaia, onde ele residiu. Seu espaçoso apartamento era o cenário das entrevistas e gravações com depoimentos de nomes de expressão que compuseram e compõem o amplo mosaico da vida paranaense. Boa parte da obra está pronta. Outro legado para a História.

Um pouco de sua trajetória de vida: Quase uma década antes de se diplomar em Jornalismo pela Universidade Católica do Paraná (atual PUCPR), em 1970, Aroldo Murá já militava na profissão, escrevendo para a revista Clube, do jornalista Dino Almeida, onde também atuavam nomes como Renê Dotti, Luiz Geraldo Mazza, Salomão Scliar, Nelson Faria e Aurélio Benitez.

Também pelas mãos de Dino foi levado ao Diário do Paraná, que havia sido fundado em 1955, e que reuniu durante décadas, uma das melhores redações da imprensa local.

No Diário do Paraná, onde cumpriu tarefas em vários setores, repórter, redator, editor, orgulha-se de ter criado o suplemento DP Domingo, alavancando nomes que se tornaram expressão na arte e na cultura paranaenses.

Murá fez incursões pelo rádio – Colombo e Ouro Verde, muitos anos depois na Banda B – e na TV, em programa de entrevistas do antigo Canal 6/TV Paraná, órgão dos Diários Associados, criação de Assis Chateaubriand.

Gaúcho de São Francisco de Assis, Aroldo era filho de Manoel Haygert, de origem alemã, e de dona Nandy Cáceres Gomes Haygert, de ascendentes espanhóis e integrante de família de agricultores nos pampas. “Seu” Manoel, professor de matemática, e mais tarde escritor, passou em concurso do antigo Dasp (Departamento Administrativo do Serviço Público) e foi designado para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no cargo de estatístico, que exerceu em várias cidades. Veio ao Paraná em 1948; Aroldo tinha oito anos. Nasceu em 29/7/1940.

Em 1967, foi morar um ano no Rio de Janeiro, convidado pelo jornal Diário de Notícias; lá, trabalhou também na revista Esso. Ao regressar, assumiu a direção do semanário católico Voz do Paraná, que transformou, junto com uma equipe de colaboradores, num vibrante órgão de debates, isso em tempos de censura decretada pelo governo militar.

Mais tarde, e durante vários anos, imprimiu nova dinâmica ao Diário Industria & Comércio do Paraná, convidado pelo empresário Odone Fortes Martins. Teve, também, rápida passagem como diretor de redação do Jornal do Estado, atual Bem Paraná. Foi, ainda, chefe da sucursal paranaense da Empresa Brasileira de Comunicação, órgão de governo que substituiu a antiga Agência Nacional, e colaborou com a revista Quem, dirigida pelo jornalista Carlos Jung.

Aroldo era dono de uma cultura profunda e uma visão privilegiada do país, que reproduziu em textos de densidade, mas com a leveza, o talento e a objetividade que Deus lhe deu e ele soube cultivar.

Compartilhar:

Um comentário

  1. Perda lamentável! Jornalista da melhor qualidade, atento observador, texto impecável, Aroldo, com sua partida, deixa aberta uma lacuna difícil de ser preenchida. Foi um privilégio ter sido seu amigo.

Comentários encerrados.