Banquete londrino

Marca da campanha promocional do voo inaugural da Transbrasil a Londres/foto: Reprodução

Ao lado da Varig, Cruzeiro e Vasp, a Transbrasil foi, décadas passadas, uma das grandes dos céus brasileiros. Fundada pelo empresário catarinense Omar Fontana, em janeiro de 1955, começou a voar com o nome de Sadia para transportar produtos do frigorífico Sadia, de seu pai, Atílio Fontana. Tempos depois, adquiriu uma pequena aérea do Nordeste e em 1973 mudou o nome da empresa para Transbrasil S/A Linhas Aéreas.

A ousadia do comandante Fontana levou a companhia a romper fronteiras, voando para Miami, Nova Iorque, Washington, Viena, Buenos Aires, Amsterdã e Londres, com sua frota de Boeings. Participei, como editor de turismo do Diário Indústria & Comércio do Paraná, de dois voos inaugurais como convidado: Buenos Aires e Londres.

Lembro que o de Londres teve um trabalho de marketing de alta qualidade: até os clássicos táxis pretos circulavam pela capital britânica com anúncios do novo voo, que decolava do Galeão (Rio de Janeiro), seguia para de Guarulhos (SP) – às terças e sextas-feiras com escala em Recife (PE) e às quintas e aos domingos, em Salvador (BA) – e pousava no aeroporto londrino de Gatwick, de onde prosseguia para Amsterdã, na Holanda.

O voo inaugural entre o Brasil e o Reino Unido foi o TR 874, em 24 de novembro de 1996, com o Boeing 767 prefixo PT-TAJ, pilotado pelo comandante Fischer. A bordo, um grupo de jornalistas de várias cidades brasileiras e políticos e outras autoridades do Nordeste.

Quatro dias depois, todos foram brindados com um recital do pianista Arthur Moreira Lima na embaixada brasileira em Londres. No programa, Villa Lobos, Carlos Gomes, George Gershwin, Astor Piazzolla, Laércio de Freitas, L. M. Gottschalk e uma composição do próprio Omar Fontana: Airborne Fantasy.

Grosvenor House, na Park Lane Avenue, um dos ícones da hotelaria londrina, hoje sob a bandeira JW Marriot/foto: Wikipedia

A hospedagem foi no hotel Grosvenor House, na Park Lane Avenue, a 800 metros do Palácio de Buckingham e vizinho da Victoria Station. Fiquei no quarto 575.

Já no primeiro dia uma parte da comitiva foi assistir ao musical Miss Saigon – de Claude-Michel Schönberg e Alain Boublil, baseado na ópera Madame Butterfly, de Giacomo Puccini -, no Theatre Royal, no West End, que começava à sete da noite. Não sabíamos que deveríamos ter jantado antes, porque naquele fim de outono europeu os restaurantes londrinos fechavam mais cedo. “Jantamos no hotel”, sugeri, na saída do teatro.

O Grosvenor House tinha três restaurantes: um deles, o maior, fechado para um evento da Williams, que estava apresentado seu novo carro para a próxima temporada da Fórmula 1; o segundo, lotado, já havia fechado as portas; e o terceiro fechou no momento em que chegamos.

Os demais desistiram. Eu, não. Munido de minha capa para o frio e para a chuva (havia uma forte neblina, quase uma garoa), saí sozinho pela noite de Londres. Procurando não me distanciar muito para não me perder, cheguei à Oxford Street, explorei a vizinhança: o que não havia fechado não aceitava mais clientes. Nem um carrinho de hot-dog ou uma sanduicheria. Já passava das onze.

Com fome, retornei ao hotel. No frigobar, encontrei uma meia-garrafa de vinho tinto. Na minha mala, um pacote de bolacha doce, recheada, que havia comprado, não sei porque, em Guarulhos.

Um banquete londrino.

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