Fritura federal

Ivo Mendes Lima: tempos difíceis em Brasília

No último ano do curto governo do presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), que sofreu impeachment, acusado de corrupção, coube a um paranaense ocupar a Secretaria Nacional da Habitação, órgão subordinado ao então Ministério da Ação Social. O nome escolhido foi o do engenheiro civil Ivo Mendes Lima (1948-2013), filiado ao PTB, partido que compunha a base política do governo.

Mendes Lima era um destacado líder classista – havia presidido a Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Oeste do Paraná, o Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), em dois mandatos, e o Instituto de Engenharia do Paraná. E era vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Engenheiros. Foi diretor de Obras da Prefeitura de Cascavel e diretor técnico da antiga Emopar (Empresa de Obras do Paraná). Atuou no extinto Banco Nacional da Habitação e na Itaipu Binacional. Foi também presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab-CT). E titular de empresas privadas na área de engenharia. Seu nome, hoje, está inscrito no Livro do Mérito, uma das mais altas honrarias do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).

O ministro da Ação Social era o deputado federal Ricardo Fiuza (1939-2005), um cearense de Fortaleza que fez carreira política em Pernambuco, tendo sido filiado à Arena, ao PDS, PFL e PP e que, depois, foi chefe da Casa Civil do mesmo governo Collor. Em seu currículo, a anotação como um dos parlamentares que participavam do esquema de distribuição irregular dos recursos orçamentários, o que motivou um pedido de cassação pela CPI do Orçamento. Acabou absolvido.

Pouco tempo depois de assumir a Secretaria Nacional da Habitação, em Brasília, Mendes Lima detectou irregularidades em escalões intermediários do órgão. E começou a trabalhar para colocar a casa em ordem. Sofreu resistências, inclusive do próprio ministro.

Regularmente, Ricardo Fiuza o chamava para despachos no final da tarde. E lá ficava Mendes Lima esperando o momento de ser atendido. Passavam-se horas e nada acontecia. Castigo por estar mexendo com interesses do grupo? Mais de uma vez, o relógio mostrando 10 e tantas da noite, levantou-se e foi embora.

No dia seguinte, cedo, a ligação da secretária de Fiuza: “Doutor Ivo, foi só o senhor sair e o ministro o chamou”.

O clima foi azedando e ele acabou deixando o cargo.

O terreno ficou livre para a turma do Fiuza.

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