Há 60 anos, Curitiba conheceu seu primeiro vice-prefeito

Adeodato Arnaldo Volpi; primeiro vice-prefeito de Curitiba, eleito em 23 de março de 1964/foto: Acervo de família

Ao contrário do Paraná que, aos tempos de província, chegou a ter até quatro vice-presidentes (depois seriam dois) em cada mandato (presidente era a antiga designação para governadores), Curitiba só conheceu um vice-prefeito na segunda metade do século 20, quando o engenheiro Ivo Arzua Pereira ocupava a chefia do Executivo Municipal, no quatriênio 1962-1966. O escolhido foi Adeodato Arnaldo Volpi, figura de destaque no ambiente político-administrativo paranaense. E foi o único, então, porque, nas gestões seguintes – entre 1967 e 1985 – os prefeitos voltaram a ser nomeados. Figuras singulares, sem vices.

Voltando aos tempos do Império, sobre as quatro vice-presidências, um registro do historiador David Carneiro em sua “História do período provincial do Paraná/Galeria de presidentes/1853-1889”, página 12: “O executivo, pelo representante mais alto nomeado pelo imperador, era complementado por quatro vice-presidentes. De início, no Paraná, estes eram escolhidos primeiro entre os juízes, estagiando ou servindo na província, funcionários imperiais de passagem por ela. As posições menos eminentes eram ocupadas pelos maiorais da terra pertencentes ao partido que estivesse no poder, quase sem possibilidades de chegarem ao governo, salvo quando estes, por coincidência, fossem magistrados (…).

O cargo de vice-prefeito em Curitiba foi criado em 1964 pela Câmara de Vereadores e extinto um ano depois, no final da gestão de Ivo Arzua Pereira. Arzua foi o último prefeito eleito pelo voto direto, em 1962, depois da redemocratização do país com a queda do governo ditatorial de Getúlio Vargas e a promulgação da Constituição de 1946. E o primeiro a ser nomeado, dentro das novas regras estabelecidas pelo regime militar que havia deposto o presidente João Goulart, em 1964. Seu mandato foi estendido até março de 1967, nomeado pelo governador Paulo Pimentel, quando assumiu Ministério da Agricultura, a convite do presidente-general Arthur da Costa e Silva, sendo substituído pelo engenheiro Omar Sabbag.

Assim, o ex-vereador Adeodato Arnaldo Volpi, que exercia na época a diretoria de um banco, foi o escolhido para inaugurar o recém-criado posto. Na verdade, houve uma eleição indireta para o cargo, no plenário da Câmara Municipal, no dia 23 de março de 1964. Concorriam dois candidatos: Volpi, que era presidente do Diretório Municipal do PDC (Partido Democrata Cristão), do governador Ney Braga, e Abílio Ribeiro, do PSD (Partido Social Democrático). O então presidente da Câmara, vereador Elias Karam, também foi cogitado para concorrer, mas resistiu ao apelo dos companheiros. Pensou-se ainda em Léo de Almeida Neves, então deputado estadual, mas este acabou sendo nomeado para um cargo de direção no Banco do Brasil. E até no empresário Jayme Canet Junior, segundo especulações de jornais da época.

Na primeira votação, Volpi recebeu nove votos e Abílio, seis; houve três em branco e dois vereadores (eram 20) estavam ausentes. Nessa fase, havia necessidade de maioria absoluta: 11 votos.

Na segunda votação, foi registrado um empate de nove votos entre os dois concorrentes, além de dois votos em branco. Pelo regulamento, Volpi, mais velho em idade, foi considerado eleito. Votaram os vereadores Elias Karam, Menotti Caprilhone, Acir José, Alvim Jareski, Arlindo Ribas de Oliveira, Carlos Losso, Dino Gasparim, Elias Jorge, Erondy Silvério, Fabiano Braga Cortes, Flávio Horizonte da Costa, Feliciano (Tito) Schier, Ivo Moro, João Derosso, Jobar Cassou, José Maria Azevedo, Manoel Paredes, Mauro de Alencar, Rosalino Mazziotti e Loprete Frega. A posse de Volpi foi marcada para o final de abril.

Entre os que acompanhavam o pleito no recinto da Câmara estavam o empresário Jayme Canet Júnior (futuro governador do Paraná), então presidente da Cafe do Paraná (Companhia Agropecuária de Fomento Econômico); Anibal Cury, presidente do diretório regional do PTN (Partido Trabalhista Nacional); e Rafael Iatauro, presidente do diretório municipal do mesmo partido. Em seguida, Volpi foi ao Palácio Iguaçu, onde o esperavam o governador Ney Braga e o prefeito Ivo Arzua. Foi empossado em 28 de abril de 1964.

Nascido em Curitiba em 13 de novembro de 1912, Volpi fez carreira como serventuário da Justiça do Estado do Paraná, entre 1931 e 1961, quando se aposentou. De 1947 a 1955, foi vereador na capital paranaense pela UDN (União Democrática Nacional), tendo exercido, na mesa diretora da Câmara Municipal, os cargos de 1º secretário, 2º vice-presidente e 1º vice-presidente, este último nas gestões dos presidentes Mário Afonso Alves de Camargo e Sebastião Darcanchy.

Foi ainda diretor da Carteira de Comércio e Indústria do Banco do Estado do Paraná, presidente da Liga Paranaense de Combate ao Câncer, diretor-presidente da Codepar (Companhia de Desenvolvimento do Paraná) e do órgão que a substituiu, o Badep. Foi, ainda, secretário dos Negócios do Governo do Paraná e presidente da Caixa Econômica Federal no Paraná.

Adeodato Volpi foi cotado como candidato a prefeito de Curitiba, na eleição de 1958, para a sucessão de Ney Braga. Chegou a iniciar a campanha, mas o indicado da situação acabou sendo o vereador Felipe Aristides Simão, derrotado nas urnas pelo general Iberê de Mattos. Seu nome passou a ser comentado para a eleição seguinte, o que não aconteceu. Em 1962, Curitiba elegeu prefeito o engenheiro Ivo Arzua Pereira, de quem seria, dois anos depois, o vice.

Faleceu em 12 de dezembro de 1970 aos 58 anos. Seu nome foi dado a uma das ruas de Curitiba em 1971, por proposta do então vereador Arlindo Ribas de Oliveira.

Os prefeitos que vieram a seguir – Omar Sabbag, Jaime Lerner, Saul Raiz, novamente Jaime Lerner e Maurício Fruet, todos nomeados – não tiveram vice. Quando necessário, eram substituídos pelo presidente da Câmara de Vereadores. Roberto Requião, eleito para o período 1985-1988, teve como vice o ex-vereador e ex-deputado estadual Adhail Sprenger Passos, que inauguraria a regularidade do cargo.

Seguiram-se: Algaci Túlio, vice de Jaime Lerner (na terceira gestão: 1989-1992); José Carlos Gomes de Carvalho, vice de Rafael Greca de Macedo (1993-1996); novamente Algaci Túlio, vice de Cássio Taniguchi (1996-2000), Carlos Alberto (Beto) Richa, vice de Cássio Taniguchi, segunda gestão (2000-2004); Luciano Ducci, vice de Beto Richa (2005-2010, um mandato e meio, quando Ducci assumiu como titular e ficou sem vice); Miriam Aparecida Gonçalves, vice de Gustavo Fruet (2013-2016); e Eduardo Slaviero Pimentel, vice de Rafael Greca de Macedo (2017-2020 e 2021 até o momento).

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