A última camada de asfalto sepultou definitivamente uma história de 138 anos. A pintura das faixas brancas das vagas para os veículos foi a pá de cal. A velha Sociedade Beneficente Protetora dos Operários, fundada em 1883, foi posta ao chão em poucos dias. No seu lugar, a Prefeitura criou um ‘estacionamento inteligente’.
É verdade que o casarão que abrigou todo esse tempo o ‘Ópera-Rio’, assim chamado por uns por ter abrigado, durante décadas, bailes como o dos ‘Enxutos’ (travestis) e das ‘Bem Boladas’, não tinha estilo arquitetônico que merecesse sua preservação. Mas sempre ouvi, na própria Prefeitura, ao longo dos anos, que a preservação deve contemplar exemplares de cunho arquitetônico, histórico e sentimental.
O velho Operário enquadrava-se nos dois últimos conceitos. Mas foi abaixo sem dó. Não restou nenhum pedaço de parede original – nem da fachada, como a Prefeitura já exigiu de tanta gente – à guisa de memorial. Uma pena.
Numa reunião do Conselho Municipal de Turismo de Curitiba, em março de 2020, numa sexta-feira 13, o prefeito @Rafael Greca anunciou a compra (ou desapropriação) do terreno para a criação de um centro de eventos, que se completaria com as atividades da praça João Cândido, onde estão o histórico Belvedere (com café e sede da Academia Paranaense de Letras) e as ruínas da igreja de São Francisco de Paula, que nunca chegou a ser concluída.
Antes, porém, viraria estacionamento. Tomara que não seja uma decisão definitiva.
Quando a Prefeitura anunciou o ‘estacionamento inteligente’, enviei WhatsApp à presidente do Instituto Curitiba de Turismo perguntando sobre o tal centro de eventos. Até hoje não mereci resposta. E sei que a mensagem foi lida.
A Sociedade Beneficente e Protetora dos Operários foi fundada no século 19 pelo pedreiro Benedito Marques. Durante décadas, a partir de meados do século 20, foi presidida pelo histórico Edgar Antunes da Silva, o Tatu, figura bastante conhecida e simpática, um agregador.
Funcionário da Prefeitura de Curitiba por mais de 30 anos, Tatu foi também, por bom tempo, administrador da estação Rodoviária de Curitiba. Quem sabe, como lembrança a um personagem da cidade que também foi um habilidoso promotor de eventos, a Prefeitura não reserve, em algum canto do ‘estacionamento inteligente’, um espaço em sua homenagem.