Histórias de Jaime Lerner

Jaime Lerner em visita a obras, com membros da equipe/foto: Erony Santos/Prefeitura de Curitiba/acervo JZ

Conforto & elegância

Em sua terceira gestão na Prefeitura de Curitiba (1989-1992), o arquiteto Jaime Lerner apareceu, certa tarde, numa concorrida entrevista coletiva no salão nobre do Palácio 29 de Março, de terno, gravata e um belo sapatenis preto, que havia comprado em Nova Iorque e era novidade no Brasil.

Questionado pelos jornalistas, respondeu de pronto:

– Troquei a elegância pelo conforto!

E passou a responder às perguntas.

Bolachas artesanais

Jaime Lerner, quando residia na rua Bom Jesus, 76, no bairro Juvevê, onde hoje está o escritório de planejamento urbano por ele criado, tinha uma empregada doméstica que, para complementar o salário, fazia bolachas artesanais. E, para receber encomendas, ela dava como contato o telefone da casa do prefeito.

Certa manhã, preparando-se para sair rumo à Prefeitura, o telefone tocou e ele atendeu. Era uma encomenda de bolachas.

E ele, sempre bem-humorado, disse a quem chamava:

– Só um momentinho. Estou com as mãos sujas de farinha, vou limpar e logo anoto o seu pedido.

Na Cidade da Bahia

Numa viagem a Salvador, em companhia de um assessor, Jaime Lerner tomou um taxi do aeroporto ao hotel. No caminho, sentado no banco da frente, o tema da conversa acabou sendo o governador Antônio Carlos Magalhães, o ACM, muito querido da ‘Cidade da Bahia’, como o chofer se referia a Salvador.

Ao saber que os passageiros eram de Curitiba, o taxista disse que os curitibanos eram gente de sorte porque tinham um prefeito muito competente, respeitado no país inteiro e até no exterior.

O assessor, no banco de trás, então perguntou:

– O sr. conhece o prefeito de Curitiba, Jaime Lerner?

Diante da negativa, informou:

– Pois é esse senhor sentado ao seu lado.

O homem não queria acreditar. De tão eufórico, recusou-se a cobrar a corrida. Com o que Lerner não concordou, naturalmente.

Casa própria

Jaime Lerner encontrou um ex-assessor, que havia recém-casado.

– Já fez sua casa? – perguntou.

Diante da negativa, disse:

– Vá em frente, o primeiro tijolo é 50% da obra.

O assessor acreditou na máxima, seguiu o conselho e concretizou a obra.

Troca de nomes

Começo de noite festivo em determinado bairro distante do centro de Curitiba para a inauguração de várias obras. Presentes ao ato vereadores, líderes comunitários, sindicalistas e boa parte dos moradores.

O prefeito recebeu da responsável pelo cerimonial a lista dos presentes que mereceriam ser citados. Entre os nomes, o de uma senhora, chamada dona Delícia, liderança importante na região.

Ao iniciar seu discurso, Lerner leu aquela longa relação e, talvez distraído, já pensando no que falar, finalizou as referências:

– E também aqui presente, dona Gostosa, uma das nossas lideranças no bairro.

Entre boas risadas, e também sorrindo, prosseguiu falando.

 

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