Jaime Lerner, prefeito de São Paulo?

O anúncio, pelo prefeito de São Paulo, João Dória, da contratação do arquiteto Jaime Lerner para desenvolver projeto de requalificação do centro da capital paulista (programa Roda Viva, da TV Cultura, 10/4/2017), provoca a lembrança desta pequena história:

Meados de 1991. Luiz Antonio Fleury Filho era governador de São Paulo, eleito no ano anterior. Orestes Quércia, ex-governador, seu antecessor. Jaime Lerner estava na metade de seu terceiro mandato de prefeito de Curitiba.

Quércia queria Lerner candidato à Prefeitura de São Paulo em 1992. O arquiteto curitibano acumulava prestígio pela transformação urbana operada em Curitiba e já havia sido sondado também por políticos do Rio de Janeiro.

Orestes Quércia encarregou um assessor seu, chamado Antônio, de providenciar as primeiras conversas. Antônio contatou em Curitiba o jornalista Edouard Elias Thomé, que trabalhava na Assembleia Legislativa do Paraná. Thomé me procurou na Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura. Exigiu sigilo sobre o assunto.

Levei o caso ao prefeito Lerner, que me pediu para postergar a resposta. E confidenciou que já havia sido contatado pelo governador Fleury sobre o mesmo assunto. Fleury e Quércia estavam aparentemente rompidos, pelo menos é o que a imprensa noticiava.

Várias vezes por semana, Thomé me cobrava a resposta e eu enrolando. Empurrando com a barriga. Não podia abrir o jogo, por lealdade. Até que, em determinado dia, Lerner me informou, ainda em tom reservado, que fora convidado a jantar com Fleury em São Paulo. O tema: a sucessão de Luiza Erundina, a prefeita paulistana.

Na volta, Jaime Lerner contou alguns detalhes do encontro. Lá estavam, para recebê-lo, efusivamente, em harmoniosa dupla, Luiz Antonio Fleury Filho e Orestes Quércia.

As negociações não prosperaram. Lerner ficou até o final de seu mandato e depois foi duas vezes governador do Paraná.

Edouard Elias Thomé nunca mais falou comigo.

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