O cantor João Gilberto, um dos criadores da Bossa Nova, que morreu neste sábado 6, no Rio de Janeiro, esteve apenas uma vez em Curitiba, quando ainda não era famoso.
Foi num frio domingo de julho, nos idos de 1960 ou 1961, no Chá de Engenharia, tradicional encontro dançante promovido desde os anos 1940 pelo Diretório Acadêmico de Engenharia da UFPR.
O Chá de Engenharia, nos salões da Sociedade Duque de Caxias, na esquina das ruas Dr. Muricy e José Loureiro, nos fins de tarde/começo de noite dos domingos, foi assim batizado porque, no início, nos bailes, servia-se chá quente com bolachas.
O chá era fornecido por Agostinho Ermelino de Leão Filho, presidente do Diretório, cuja família era dona de um engenho de erva-mate – o Mate Leão – em Curitiba.
Não havia bebida alcoólica e, além do mate com bolachas, eram servidos refrigerantes, principalmente gasosa Cini; Coca-Cola só em fins de 1946, início de 1947. Mais tarde permitiu-se cerveja.
Quem registrou a presença de João Gilberto em Curitiba foi o jornalista Aramis Millarch (1943-1992), em sua coluna Tablóide, no jornal O Estado do Paraná.
Conta Millarch: “Havia em Curitiba, naquela época um radialista chamado Paulo César, apresentador de programas de auditório de sucesso na rádio Guairacá, na rua Barão do Rio Branco. Ele levava artistas ao seu programa e, depois, ao Chá Dançante, um acordo que teria com o Diretório Acadêmico para diminuir custos.
“Pois foi para uma dessas programações que Paulo César trouxe a Curitiba – pela primeira e única vez – o então jovem João Gilberto. A apresentação de João no auditório da Guairacá não foi nenhum sucesso. Afinal, para um público simples, acostumado a aplaudir outros tipos de intérpretes, a voz fina e diferente, a batida nova de João Gilberto ao violão, não traziam a empatia imediata”.
Mas na Duque de Caxias, “um público surpreendentemente atento o aplaudiu bastante”. (Tablóide, O Estado do Paraná, 29/6/1986).