Nos anos 1960, havia na Prefeitura de Curitiba um advogado que exercia as funções de assessor do gabinete do prefeito. Era competente, simpático e querido pelos funcionários. Mas tinha um defeito: demorava para despachar os processos, que ficavam hibernando em suas gavetas. E as partes interessadas insistindo na solução, a grande maioria de pendências de posturas urbanas, regularização de loteamentos e até de pequenas causas, que sob a ótica do contribuinte requerente, eram urgentes e importantes.
Meses, e até anos, se arrastavam e as gavetas cada vez mais cheias. Poucos processos eram despachados. Um determinado dia, o assessor entrou em férias. Alguns colegas seus da área jurídica decidiram dar um fim naquela confusão. Montaram uma comissão de três advogados, chamaram um chaveiro para abrir as gavetas, redigiram uma ata relacionando os processos lá encontrados e, em poucos dias, despacharam todos.
Quando o engavetador retornou das férias, virou bicho. Ameaçou processar todos alegando invasão de privacidade, ou coisa parecida. Mas, como era um sujeito sempre bem-humorado, e vendo que haviam trabalhado por ele, resolveu esquecer.
Curiosamente, dali em diante, passaram a ser poucos os processos cujo endereço era a gaveta. Só os mais complicados.