O matador

Em 15 de novembro de 1982, foram realizadas no Brasil as primeiras eleições diretas para governador desde 1965. Dezessete anos antes, Paulo Pimentel havia derrotado Bento Munhoz da Rocha Neto, que tentava voltar ao Palácio Iguaçu, depois de ter chefiado o Executivo estadual entre 1951 e 1955.

Naquela data, em tempos de abertura “lenta, gradual e segura”, como preconizavam os dois últimos presidentes do regime militar, o eleito foi José Richa, que era senador, havia sido prefeito de Londrina e dentista de profissão, tendo como vice o empresário João Elísio Ferraz de Campos.

Álvaro Dias, então deputado federal, foi eleito senador.

Richa derrotou, nas urnas, o ex-prefeito de Curitiba Saul Raiz, diretor do Departamento de Estradas de Rodagem nos governos Ney Braga e Paulo Pimentel, um executivo dinâmico, que atuou nas indústrias Klabin, um tocador de obras que deixou sua marca na capital paranaense no quatriênio 1975-1979.

Empossado, Richa passou a cumprir compromissos assumidos com seus correligionários durante a campanha, empregando muitos deles em órgãos estaduais e municipais.

A Maurício Fruet, nomeado por ele prefeito de Curitiba e que cumpriu mandato de três anos (1983-1985), coube acolher alguns desse ‘protegidos’.

Um deles, o sr. B, vamos chamá-lo assim, que havia atuado como segurança durante a campanha, foi contratado pela Urbs (Urbanização de Curitiba), empresa encarregada do transporte coletivo, da rodoferroviária, de estacionamentos, planos comunitários e de vários outros serviços.

Para a presidência da Urbs, Fruet nomeou o empresário Bayard Osna, figura simpática, empreendedor, que também teve destaque na imprensa e nos esportes e presidiu o Coritiba Foot Ball Club.

O sr. B era muito prestativo, conversador, afável. Tinha vindo de Belém do Pará. Bayard deu-lhe várias atribuições, mas em nenhuma delas o novo funcionário se mostrava eficiente. Gostava mesmo era de um bom papo.

Ouvia muitas broncas sobre os malfeitos. E uma delas foi particularmente severa, seguida da demissão.

O sr. B recebeu o que tinha de direito, despediu-se e sumiu do mapa.

Meses depois, conversando com uma secretária do gabinete – eu atuava no Núcleo de Comunicação Social da Urbs – soube por ela que o sr. B tinha lhe confidenciado ser um pistoleiro de aluguel, um matador profissional e que já havia feito vários ‘serviços”.

– Mas, como? – perguntei, cheio de dúvidas. – Por que ele sempre aceitou mansamente as broncas, algumas pesadas, e nunca reagiu? Nem na demissão? Essa não me parece a reação normal de um homem violento.

– Também perguntei isso a ele – respondeu a secretária – e ele me disse que só agia com violência se fosse contratado por alguém. Por conta própria, nunca. Questão de ética da ‘profissão’.

Uns dois anos depois, eu engraxava os sapatos na Boca Maldita quando vejo o sr. B se aproximar. Com seu jeito afável e conversador. Disse que havia recém-chegado de Belém do Pará para cumprir um ‘contrato’ em Curitiba. Receber um dinheiro que um sujeito devia a um outro sujeito do Nordeste.

– E se ele não pagar? – perguntei.

– Aí, a conversa vai ser muito séria.

E entrou no café na boca da Galeria Tijucas.

 

 

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