
O prefeito Rafael Valdomiro Greca de Macedo, que será reempossado no cargo nesta sexta-feira, primeiro dia de 2021, em dois atos – na Câmara Municipal e no Memorial da Cidade -, será o quarto prefeito na história de Curitiba reeleito pelo voto direto para um mandato consecutivo.
O primeiro foi Luiz Antônio Xavier, eleito pela primeira vez em 22 de julho de 1900 e empossado em 22 de setembro do mesmo ano, tendo recebido 1.346 votos contra 46 dados a Zepherino José do Rosário e cinco a José Carvalho. E reconduzido ao posto em 20 de julho de 1904, com 1405 votos, administrando a cidade até 1908.
Um rápido recuo na história: o primeiro prefeito de Curitiba foi o alferes José Borges de Macedo, ainda ao tempo em que o Paraná era a Quinta Comarca de São Paulo. Foi nomeado em meados de 1835 pelo governo provincial paulista, permanecendo na função até 24 de março de 1838, quando uma nova lei extinguiu o cargo de prefeito e a chefia do Executivo municipal voltou a ser de competência dos presidentes das Câmaras de Vereadores.
Com a proclamação da República em 1889 e na esteira da promulgação da primeira Constituição Republicana, o Paraná editou, em 7 de abril de 1892, sua própria Constituição, que estabeleceu: “O governo municipal é delegado: a) a uma corporação deliberante, com a denominação de Câmara Municipal; b) a um cidadão encarregado das funções executivas, denominado prefeito”.
Depois de um breve período em que a capital foi conduzida por uma Comissão Municipal, nomeada pelo então governador capitão-de-mar-e-guerra José Marques Guimarães, e mais tarde transformada em Intendência, inicialmente presidida por Vicente Machado da Silva Lima, foram marcadas as primeiras eleições na história de Curitiba: a data, 21 de setembro de 1892.
Cândido Ferreira de Abreu, engenheiro, foi então eleito com 1.106 votos, derrotando Icílio Orlandine, 162 votos, Affonso Guilhermino Wanderley, 42, e Coriolano Silveira da Motta, 22.
O eleitorado era bastante reduzido e votavam praticamente apenas os homens brancos. Mas não deixou de ser uma eleição direta.

Depois de Luiz Xavier – que hoje dá nome à “menor avenida do mundo”, no centro de Curitiba, berço da Boca Maldita –, quase um século depois, em 2001, Curitiba teria um prefeito reeleito pelo voto direto para um segundo mandato consecutivo: o engenheiro Cássio Taniguchi.
Rafael Greca, que cumpriu sua primeira gestão entre 1993 e 1996, sonhava na época com a possibilidade da reeleição, o que acabou não ocorrendo; a lei ainda não previa. Taniguchi foi escolhido como candidato do grupo do governador Jaime Lerner à sucessão de Greca. Ganhou no primeiro turno, derrotando oito adversários, Carlos Simões e Ângelo Vanhoni, na segunda e terceira colocações.
Aprovada a reeleição, Taniguchi submeteu-se novamente às urnas, e suou para vencer. Foi para o segundo turno contra o mesmo Vanhoni, que, em determinado momento, chegou a liderar as pesquisas.
Na eleição seguinte, em 2004, Carlos Alberto (Beto) Richa, que tinha sido vice de Taniguchi, elegeu-se prefeito impondo nova derrota a Ângelo Vanhoni, já no primeiro turno, façanha que repetiu quatro anos depois, ao vencer Gleisi Hoffmann. Richa deu sua palavra de que ficaria até o fim do segundo mandato mas não a cumpriu; saiu dois anos depois para disputar o governo do Estado, deixando o cargo para seu vice, Luciano Ducci.
Em 2016, Rafael Greca, que havia sido derrotado (ficou em quarto lugar) no pleito municipal de 2012, ganhou o direito de voltar ao Palácio 29 de Março, onde já estivera mais de 20 anos antes. Venceu o deputado estadual Ney Leprevost, que neste 2020, desistiu de nova candidatura. Greca levou no primeiro turno, tendo mais uma vez como vice Eduardo Pimentel Slaviero, neto do ex-governador Paulo Pimentel.
MANDATOS MÚLTIPLOS
Afora esses quatro nomes – Luiz Antônio Xavier, Cássio Taniguchi, Beto Richa e Rafael Greca – outros prefeitos cumpriram mais de um mandato, mas nunca consecutivos e nem sempre pelo voto direto.
Cândido de Abreu foi novamente um pioneiro; depois de comandar a cidade durante um ano e 11 meses, de 1892 a 1894 (renunciou ao cargo em 23 de agosto, alegando divergências com a Câmara), foi reconduzido, agora nomeado, pelo então governador Carlos Cavalcanti. Cumpriu mandato até 1916, deixando como legado a Comissão de Melhoramentos, uma espécie de plano diretor da cidade, e a primeira sede própria da Prefeitura, o Paço da Liberdade, na praça Borges de Macedo, entre uma série de obras importantes.
Prefeito com dois períodos foi também o coronel Joaquim Pereira de Macedo, de 1908 a 1912 (eleito) e de 1930 a 1932 (nomeado).
O engenheiro João Moreira Garcez, que construiu o primeiro ‘arranha-céu’ de Curitiba, o Palácio Garcez, na avenida Luiz Xavier, foi nomeado prefeito em 1920 e ficou no cargo oito anos. Voltou, também por nomeação, para o período 1938-1940, ao tempo do interventor Manoel Ribas.
Com a redemocratização do país em 1946 e a retomada das eleições diretas para prefeito, Curitiba elegeu Ney Aminthas de Barros Braga, que, mais tarde, seria deputado federal, governador (duas vezes) e ministro da República. Mas seu mandato na Prefeitura foi único.
Quem ganhou um segundo mandato, embora breve, foi o engenheiro Ivo Arzua Pereira. Eleito com a força de Ney Braga para o período 1962-1966, foi nomeado pelo então governador Paulo Pimentel (a escolha voltou a ser indireta, em razão dos tempos de governo militar), mas só ficou até março de 1967, designado pelo presidente Costa e Silva para o Ministério da Agricultura, quando foi substituído pelo também engenheiro Omar Sabbag.

Aí veio o arquiteto Jaime Lerner, três vezes prefeito: 1971-1975 e 1979-1983, nomeado, e 1989-1992, eleito na histórica campanha dos 12 dias. Sua primeira gestão marcou uma era de transformações em Curitiba e as duas outras também foram marcadas por grandes avanços, fazendo de Curitiba uma referência em planejamento urbano.
Rafael Greca começa neste 1º de janeiro de 2021 seu terceiro mandato. Como Lerner, que garantiu sua primeira eleição há quase 30 anos, também será um tri-prefeito.
Nas primeiras décadas do século 20, Curitiba teve à frente da Prefeitura, em períodos fracionados, um prefeito interino – João Antônio Xavier – que, no total das interinidades, foi mais tempo prefeito do que muitos titulares. Mas esta é uma história para depois.