22 de setembro, 50 anos atrás. Um domingo de estreia da Primavera como hoje. Uma data histórica para Curitiba. O povo aglomerado na praça Generoso Marques, diante do Paço da Liberdade, a primeira sede própria da Prefeitura de Curitiba, obra do prefeito Cândido de Abreu, inaugurada em 1916. Todos de olho na novidade.
Diante das recém-instaladas estações com estrutura metálica e cobertura de acrílico, estavam alinhados 20 novos ônibus. Mas não eram ônibus comuns. Haviam sido projetados especialmente para (e por) Curitiba e passariam a fazer parte de um sistema chamado Expresso, obra de outro grande prefeito – Jaime Lerner – e de sua equipe de profissionais de talento, que estavam executando uma verdadeira revolução urbana na capital paranaense.
Às 10 horas de uma manhã de garoa, naquele domingo de 1974, Lerner, ao lado da esposa Fany e das filhas Andréa e Ilana, deu a largada dos 20 ônibus, cujos motoristas já haviam realizado viagens experimentais de reconhecimento do trecho nas noites anteriores. Da praça Generoso Marques, partiram oito carros para a linha Norte e 12 para a linha Sul. Todos lotados. A passagem era gratuita no primeiro dia.
Naquele mesmo domingo, a Prefeitura de Curitiba publicou em todos os jornais da Capital nota oficial anunciando a novidade, conforme registra o livro-documento “Do bonde de mula ao ônibus expresso”, março 1975), que escrevi em coautoria com os jornalistas Desidério Perón e Nelson Padrella, como eu, integrantes da equipe de comunicação da Municipalidade:
“Entra hoje em operação o ônibus expresso. Os veículos partirão da Praça Generoso Marques, às 10 horas, entrando, gradativamente, no seu desempenho normal. Trata-se não apenas da entrada em circulação de um novo tipo de ônibus, mas da implantação de um novo sistema de transporte de massa que compreende: pistas exclusivas, estações de embarque e desembarque definidas, comunicação visual, um sistema de alimentação através de linhas convencionais.
“Assim, este teste, que corresponde ao início das operações, tem por finalidade, em suas duas primeiras semanas, uma adequação do sistema e seus componentes (sinalização, paradas nas estações, adaptação dos motoristas, cobradores, fiscais), bem como adequar a população com o novo meio de transporte” (…)
De acordo com o projeto, os ônibus correriam em pistas exclusivas, na via central de um trinário – canaletas exclusivas com uma faixa de tráfego lento de ambos os lados e duas vias rápidas paralelas e em sentido contrário, solução apresentada pelo arquiteto Rafael Dely, do Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), um dos destacados membros da equipe de Jaime Lerner. As paradas seriam de 400 em 400 metros.
Os expressos eram ônibus mais baixos que os convencionais, o que permitia maior conforto no embarque e desembarque. A carroceria tinha largura de 2m60, com um desenho que ampliava a visão do motorista nas manobras. Os bancos eram de fibra de vidro e com modelagem anatômica. Os veículos só podiam arrancar se as portas estivessem bem fechadas.
As características técnicas do novo ônibus haviam sido submetidas à indústria nacional e três empresas especializadas responderam positivamente: Marcopolo, Caio e Furcare. A Marcopolo foi a escolhida por atender a todas as exigências.
Mas antes do desenho definitivo do Expresso, o primeiro modelo cogitado não apresentava nenhuma semelhança com o adotado. Chamava-se Uiraquitã – nome indígena que remete ao primeiro automóvel fabricado no Brasil -, projeto bastante futurista mas sem perspectivas de uma linha de montagem a curto prazo, apresentado a Curitiba pela Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo do Campo (SP). Prevaleceu o projeto do Ippuc.
Naturalmente, nos primeiros dias houve problemas, até com pequenos acidentes e a história curiosa do primeiro batedor de carteira do novo sistema.
Os jornais locais, assim como a mídia nacional, deram amplo destaque à novidade.
A inauguração oficial do ônibus expresso aconteceu menos de três semanas depois, em 11 de outubro, com a presença do presidente Ernesto Geisel, do governador Emílio Gomes e do prefeito Jaime Lerner.
Ao longo deste meio século, o sistema foi substancialmente ampliado e modernizado. Chegaram os ônibus articulados e biarticulados (uma e duas sanfonas). Na terceira gestão de Lerner na Prefeitura (1989-1992), foram criadas as estações tubo, permitindo o embarque do passageiro no mesmo nível do ônibus. Um novo avanço.