
Em tempos de democracia plena – e outros nem tanto – Curitiba teve 16 prefeitos eleitos, três deles reeleitos, o que soma 19 mandatos, que foram tema de matéria neste blog na data do primeiro turno das eleições de 2024: 6 de outubro.
Neste domingo 27, quando os dois candidatos ao Palácio 29 de Março esperam a contagem dos votos, o blog é dedicado aos prefeitos nomeados, apesar da relativa dificuldade de acessar com exatidão documentos dedicados ao assunto.
O alferes José Borges de Macedo inaugurou a galeria dos nomeados, em 1835, mas sua escolha deu-se ainda ao tempo do Paraná como Quinta Comarca de São Paulo, com o decreto assinado pelo presidente daquela Província.
Macedo governou Curitiba por dois anos e oito meses, quando o cargo foi extinto e os presidentes das Câmaras Municipais voltaram a acumular a chefia do Executivo.
Entre 1892 e 1908, Curitiba teve eleições diretas para prefeitos, embora o voto fosse privilégio de homens maiores de 21 anos, preferencialmente brancos e bem ou razoavelmente posicionados na sociedade.
Ao final da gestão 1908-1913, lei estadual nº 1.142/12, sancionada pelo governador Carlos Cavalcanti de Albuquerque, estabeleceu que os prefeitos de Curitiba passariam a ser nomeados.

E as nomeações se deram em dois tempos: o primeiro, entre 1913, quando o eleito em 1892, Cândido Ferreira de Abreu, engenheiro civil, voltou ao paço municipal por decreto do próprio Cavalcanti, e 1954, com a designação de Ernani Santiago de Oliveira, pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto, que estabeleceu o fim de uma época, pois logo as urnas voltariam a ser utilizadas, com a eleição de Ney Braga.
O segundo, entre 1966 e 1985, tempos do regime militar instituído em 1964, com o golpe que derrubou o presidente João Goulart e mergulhou o país em um período nebuloso. Em 1985, sai vitorioso das urnas o advogado Roberto Requião de Mello e Silva, para um mandato de três anos, tempo motivado pela necessidade de coincidências das datas das eleições em anos pares.
De 1913 a 1954, a caneta dos governadores (que em determinado período eram chamados de presidentes) enviou ao comando da Prefeitura da capital paranaense os nomes de Cândido Ferreira de Abreu, nomeado pelo presidente Carlos Cavalcanti; Claudino Rogoberto Ferreira dos Santos, por Affonso Alves de Camargo; João Moreira Garcez, por Caetano Munhoz da Rocha, sucessor de Cavalcanti, que, como seu indicado, cumpriu dois mandatos, entre 1920 e 1928.
No começo de 1928, Affonso Camargo volta ao Palácio São Francisco (atual Museu Paranaense) e indica como prefeito o advogado e ex-deputado Eurides Cunha, que exerce o cargo por menos de dois anos.
Em outubro de 1930, a chamada Revolução de 30 – na verdade um golpe de Estado que derrubou o presidente Washington Luiz e impediu a posse do sucessor eleito, Júlio Prestes, que havia derrotado Getúlio Vargas nas urnas, pleito envolto em dúvidas sobre fraudes -, chefiada pelo próprio Vargas, colocou no governo do Paraná, como interventor, o general Mário Alves Monteiro Tourinho. Tourinho indicou para o Paço Municipal um antigo ocupante, Joaquim Pereira de Macedo, prefeito eleito em 1908 e que cumpriu mandato até o início de 1913, quando instituiu-se o tempo das nomeações.
Em janeiro de 1932, Vargas foi buscar em Santa Maria (RS), um paranaense de Ponta Grossa – Manoel Ribas -, que naquela cidade gaúcha dirigia uma cooperativa dos empregados da estrada de ferro, para ser o interventor federal no Paraná. E Ribas fartou-se de nomear prefeitos em Curitiba.

Começou com Jorge Lothário Meisser, nomeado em fevereiro de 1932 e renomeado em janeiro de 1935, agora apelo governador Manoel Ribas. Explica-se: é que Ribas, depois de um período como interventor, foi eleito governador pela Assembleia; voltaria à condição de interventor em 1937, com o golpe do Estado Novo. Meissner ficou na Prefeitura por quatro anos e meio.
Na sequência, entre 1937 e 1938, Ribas nomeou como prefeitos: Aluízio França (três meses de mandato), Carlos Heller (cinco meses) e Oscar Borges de Macedo Ribas (três meses). Ainda em 1938, escolheu como prefeito um cidadão com o qual mantinha divergências políticas, mas que respeitava: João Moreira Garcez, aquele mesmo dos oito anos da década de 1920, que cumpriu seu novo mandato até meados de 1940.
Nos anos seguintes, até a redemocratização em 1945, Manoel Ribas nomeou prefeitos: Rozaldo Gomes de Mello Leitão (mandato de três anos), Alexandre Beltrão (dois anos), Alô Guimarães (três meses), Algacyr Munhoz Mader (seis meses). Não há muita clareza nos documentos até agora pesquisados, se estes dois últimos foram nomeados ou assumiram na condição de interinos. Beltrão teria voltado à Prefeitura por pouco tempo, nomeado por outro breve interventor, Brasil Pinheiro Machado.
Sucessor de Pinheiro Machado, o ex-deputado Mário Gomes da Silva instala na Prefeitura o engenheiro Raul de Azevedo Macedo, que fica quatro meses no cargo.
Redemocratizado o país, é tempo de eleições e em março de 1947 assume o governador eleito do Paraná, Moisés Lupion, que nomeia prefeitos de Curitiba: Ângelo Lopes, Ney Leprevost, Linneu Ferreira do Amaral e Amâncio Moro.

No governo seguinte, de Bento Munhoz da Rocha Neto (1951-1955), foram nomeados: Wallace Thadeu de Mello e Silva, Erasto Gaertner, José Luiz Guerra Rego e Ernani Santiago de Oliveira.
Em 1954, Curitiba volta a ter eleições diretas para prefeitos, elegendo Ney Braga, Iberê de Mattos e Ivo Arzua Pereira. Até o golpe que derrubou João Goulart, em 1964, e acabou com a eleição de prefeitos de capitais e de cidades consideradas de segurança nacional, o que perdurou até 1985.
Como o mandato de Ivo Arzua, eleito em 1962, encerrava em 15 de novembro de 1966 – e ele fora convidado para ser ministro da Agricultura do governo Costa e Silva – o governador da época, Paulo Pimentel, nomeou-o por mais dois meses e meio, até 15 de março de 1967, com o aval da Assembleia Legislativa, de acordo com o que estabelecia a legislação.
Pimentel, então, colocou no Paço o engenheiro Omar Sabbag (1967-1971); seu sucessor, Haroldo Leon Peres, indicado pelo regime militar, o arquiteto Jaime Lerner, mantido pelos dois sucessores – Pedro Viriato Parigot de Souza, que assumiu em razão da renúncia de Peres, e Emílio Gomes, pela morte de Parigot.
Jaime Lerner (1971-1975) foi sucedido na Prefeitura pelo engenheiro Saul Raiz (1975-1979), indicado pelo governador Jaime Canet Junior, e voltou ao Paço Municipal (1979-1982) pelas mãos de Ney Braga, de novo governador do Paraná. Seu sucessor foi Maurício Fruet (1983-1985), nomeado pelo governador José Richa.
Depois disso, só eleições diretas, como a deste 27 de outubro.
Todas essas gestões foram entremeadas por dezenas de prefeitos interinos, alguns com histórias bastante interessantes. Temas para outra ocasião.