Segredos apagados

Uma frase do escritor inglês Graham Greene (1904-1991) em seu livro “O ministério do medo”, publicado em 1943, – “Quando um homem apaga uma marca a lápis, deve ter cuidado de ver se a linha está bem apagada pois, se quiser manter um segredo, nenhuma precaução é demais” – remete a um fato que testemunhei no final dos anos 1980.

O empresário paranaense José Carlos Gomes Carvalho, o Carvalhinho (1935-2003), que seria no quatriênio 1993-1996 vice-prefeito de Curitiba na primeira gestão de Rafael Greca, era, então secretário estadual de Indústria e Comércio do governo Álvaro Dias. Muitas pessoas o achavam arrogante.

Um fim de tarde, Carvalhinho foi à secretaria de Administração para uma reunião com seu colega titular da pasta Mário Pereira. Conversaram durante umas duas horas. Carvalho falava e anotava coisas em um bloco. Nada importante, apenas um cacoete que tinha e exercitava em ocasiões semelhantes. E as rodadas de café se sucediam.

José Carlos Gomes Carvalho

No final do encontro, Carvalhinho rasgou em muitos pedaços a folha com os rabiscos. Rasgou a segunda, com as marcas dos escritos. Rasgou a terceira e a quarta, até se dar por satisfeito, já que não havia mais sinais ‘comprometedores’.

E antes de se despedir, pegou xícara por xícara utilizadas na reunião e as colocou, organizadas, sobre uma mesa, num canto da sala, facilitando assim o trabalho da senhora do cafezinho responsável por recolhê-las.

Era um sujeito de contrastes.

 

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