Os jornalistas Hugo Mendonça Sant’Ana e Sandra Cantarin Pacheco, que foram editores políticos do jornal “O Estado do Paraná”, de Curitiba, publicaram em 1999 o livro “Maurício Fruet – Um brasileiro cordial”, uma saborosa coletânea de histórias e “causos” do político paranaense Maurício Roslindo Fruet (1939-1998), que foi vereador de Curitiba, deputado estadual e federal pelo Paraná e prefeito da capital paranaense (1983-1985).
Maurício era um sujeito extremamente bem-humorado, que gostava de pregar peças nos outros, sem, naturalmente, consequências sérias. O livro de Hugo e de Sandra traz uma série delas, enriquecido com a orelha assinada pelo jornalista Mussa José Assis, que por longos anos foi o diretor de redação de “O Estado”, o prefácio do ex-deputado federal Euclides Scalco, e as ilustrações do cartunista Dante Mendonça.
Mas há uma história que não está no livro, da qual fui testemunha ocular – um trote em dois atos aplicado por Maurício em seu colega de bancada da Câmara de Vereadores, Admar Bertolli, já falecido.
O prefeito, na época, era o engenheiro Omar Sabbag, nomeado pelo governador Paulo Cruz Pimentel para o período 1967-1971. Como Curitiba, naquele tempo, não tinha vice-prefeito, quem assumia o Executivo no impedimento do titular era o presidente da Câmara, então o advogado e vereador Edgar Felipe Dantas Pimentel.
No final de sua administração, Sabbag precisou se afastar por uns tempos para tratamento de saúde. Dantas Pimentel o substituiu entre 3/12/1970 e 22/1/1971.
Ato 1: o Salão Nobre do Palácio 29 de Março, no Centro Cívico, sede da Prefeitura, está sendo preparado para a cerimônia de posse. Fruet, então, chama Bertolli a um canto e lhe diz, solene:
– Admar, você já avaliou a importância da cerimônia de amanhã? É histórica. Em tempos de regime militar, de ditadura, de prefeitos nomeados, um companheiro nosso da Câmara Municipal, eleito pelo voto do povo, vai assumir a Prefeitura! Estou tão emocionado, que virei de smoking à posse, em homenagem a isso. E você devia fazer o mesmo.
Ato 2: dia seguinte, no meio da tarde, o Salão Nobre lotado, chega o vereador Bertolli, que era ou tinha sido garçom de um restaurante de Santa Felicidade, trajado a rigor, todo garboso e feliz. E vê Maurício Fruet de terno comum, do dia-a-dia. Antes que perguntasse qualquer coisa, Fruet foi se justificando: “Pedi para a empregada passar meu smoking e ela queimou a calça”.
Bertolli, meio sem jeito, mas sem perder o rebolado, porque era tão irreverente quanto o amigo, foi se afastando, quando ouviu de Maurício:
“Garçom, e não esqueça de servir meus amigos aqui”!
E caiu na gargalhada.