Maria Nicolas, a dama dos verbetes

Professora Maria Nicolas: na trilha dos grandes historiadores do Paraná
Foto: Acervo da Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba

Quando eu fazia o curso ginasial – hoje parte do Ensino Fundamental – no Colégio Bom Jesus, em Curitiba, um professor passou como lição de casa, a cada aluno, traçar um perfil do patrono de sua rua. Eu morava na rua D. Alberto Gonçalves, no bairro Mercês, que hoje compõe com a Tapajós um movimentado binário. Deveria, então, pesquisar quem foi D. Alberto Gonçalves.

Em tempos não contemplados pela facilidade e imediatismo do Google, lá fui eu pesquisar. Sabia, vagamente, que tinha sido um padre, um bispo. Por isso, fui procurar informações na Catedral Metropolitana – hoje Catedral Basílica Menor de Curitiba -, na sede do Arcebispado, na Biblioteca Pública. Nada. Ninguém tinha informações sobre tal personalidade.

Numa última tentativa, arrisquei a paróquia de Nossa Senhora das Mercês, na avenida Manoel Ribas, não muito distante da casa de meus pais. Bingo! Havia, na biblioteca dos padres Capuchinhos, um livro sobre religiosos importantes de Curitiba. E lá estava um resumo da vida de D. Alberto José Gonçalves. Aprendi, então, uma lição: valorizar as coisas da vizinhança.

Se, naquela época, começo dos anos 1960, a professora Maria Nicolas já tivesse publicado seus livros de pequenas biografias dos patronos das ruas de Curitiba – o valiosíssimo “Alma das Ruas”, que ganhou três volumes – minha tarefa teria sido bem mais fácil.

Eu saberia, assim, que D. Alberto José Gonçalves, nascido em Palmeira (PR), em 20/7/1859, depois de estudar no Liceu Paranaense foi para o Seminário Episcopal de São Paulo, formou-se, recebeu a tonsura e as ordens menores, o subdiaconato em 1822 e logo em seguida o presbiterato. No mesmo ano, transferido para Curitiba, celebrou a sua primeira missa, na igreja do Rosário. Foi vigário da matriz da cidade e participou da construção da Catedral, inaugurada em 7/9/1893.

Exerceu uma série de cargos, foi deputado provincial e constituinte, várias vezes reeleito. Presidiu a Assembleia e também foi senador, provedor da Santa Casa e membro da Academia Paranaense de Letras (APL). Nomeado pelo Papa em 1908, foi sagrado bispo no início do ano seguinte, assumindo a diocese de Ribeirão Preto (SP), onde faleceu em 6/5/1945. Essas informações hoje estão na Wikipedia. Bastar dar um clique no Google. Fácil!

O perfil de D. Alberto – que resumo aqui – pode ser encontrado nas páginas 19 e 20 do primeiro volume de “Alma das Ruas”, lançado em 1969 com o apoio do então prefeito Omar Sabbag, em modesta edição em papel jornal. Na orelha do livro, o escritor Vasco José Taborda, da APL, destacou “ a ilimitada vontade de servir de Maria Nicolas”: “Seguindo a trilha de Ermelino de Leão, Sebastião Paraná e Romário Martins, a professora Maria Nicolas mergulhou na pesquisa de documentos históricos e disso tirou rico manancial, que lhe proporcionou escrever uma dúzia de livros relacionados todos eles a fatos e pessoas que ajudaram construir este Paraná maravilhoso em que hoje vivemos”.

A professora Maria Nicolas começou a se dedicar às pesquisas para “Alma das Ruas” no início da gestão do prefeito Ivo Arzua Pereira (1962-1967). Compôs um pequeno volume com microbiografias, inclusive com muitas abreviaturas – “Dicionário dos logradouros públicos de Curitiba -, que ficou perdido, mas que foi reeditado em 1977, no qual mereço citação entre os apoiadores, ao lado dos prefeitos Ivo Arzua, Omar Sabbag, Jaime Lerner e Saul Raiz e do então diretor do Departamento de Imprensa Oficial do Paraná, jornalista João Dedeus Freitas Neto. A autora também agradece aos apoios dos então departamentos de Administração, Urbanismo e Imprensa (hoje secretarias) e à biblioteca e arquivo da Câmara Municipal, locais onde ia garimpar informações.

“Alma das Ruas” ganhou três volumes: o primeiro, de 1969, na gestão Omar Sabbag, a professora Nicolas o dividiu em seis capítulos, abordando santos e clero, brasileiros e estrangeiros que moraram e que não moraram no Paraná e paranaenses. O segundo, na administração Saul Raiz (1975-1979), e o terceiro, na segunda gestão de Jaime Lerner (1989-1992), tiveram capítulos dedicados a alameda, avenidas, jardins, largos, praças, ruas e travessas.

Preciosidades.

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