Há 110 anos, da praça, o Barão contempla a sua rua

Inauguração da estátua do Barão do Rio Branco, em Curitiba, em 19 de dezembro de 1914/foto: acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

A estátua de corpo inteiro, garbosa, com sua casaca de bronze, plantada de lado diante do antigo Paço Municipal, contempla, poucos metros adiante, o começo da rua que leva o seu nome. Dupla homenagem ao Barão do Rio Branco, que nasceu José Maria da Silva Paranhos Junior e foi um dos expoentes da diplomacia brasileira.

O Barão ali está, já coberto pela pátina do tempo, desde a inauguração do monumento, há 110 anos, na tarde de 19 de dezembro de 1914, um sábado festivo, data em que o Paraná comemorava 61 anos de instalação como Província. Pouco mais de um ano depois, em 24 de fevereiro de 1916, uma quinta-feira, o prefeito Cândido de Abreu inaugurava a primeira sede própria da Prefeitura, o Paço Municipal, mais tarde chamado da Liberdade.

A rua, com seu nome atual, é um pouco mais velha: foi batizada em 10 de fevereiro de 1912, pelo decreto nº 47, assinado pelo então prefeito Joaquim Pereira de Macedo. Chamava-se, então, rua da Liberdade.

Estátua do Barão em 1910/foto: acervo do IHGPR

Logo após a morte do Barão, naquele mesmo 10 de fevereiro, um grupo de curitibanos iniciou subscrição pública para a construção de uma estátua em homenagem ao chanceler, a exemplo do que estava acontecendo no Rio de Janeiro. (Na antiga Capital Federal, para custear o monumento, a Estrada de Ferro Central passou a descontar um dia de salário a cada mês de seus empregados, o que causou muitos protestos).

Gregório Garcez, tesoureiro da comissão curitibana encarregada do assunto, “abriu uma caderneta no London & Brazilian Bank, na qual iniciou o depósito das importâncias recebidas”, conforme informou o jornal “A República”, que passou a publicar, periodicamente, o nome dos contribuintes. Pouco depois, as contribuições também eram depositadas no London & River Plote Bank e no Banque Français & Italienne pour Amérique du Sud.

Ao mesmo tempo, eram promovidas festas para arrecadação de fundos (uma delas foi no bosque da cervejaria Providência, na rua Francisco Rocha, ainda chamada de travessa da Providência; mudaria de nome em novembro do mesmo ano); personalidades, como Dario Vellozo, proferiam conferências com o mesmo objetivo.

Em 8 de junho de 1912, o presidente da comissão, João Gualberto Gomes de Sá Filho, manda o secretário Júlio Theodorico Guimarães publicar edital de concorrência pública para a construção da estátua, cujas propostas deveriam ser entregues até 31 de julho para abertura no dia seguinte. Cada proposta deveria ser apresentada acompanhada de maquete em gesso do monumento (estátua e pedestal) em escala 1:10.

“A República”, de 25 de julho de 1912, anunciava que três maquetes de escultores paranaenses estariam vindo da Europa para concorrer: uma de João Turim, outra de Zacco Paraná e a terceira de autoria dos dois, que se especializavam no Velho Continente e que foram os dois únicos brasileiros presentes ao Salão de Paris. Mas como o vapor “Prussia” deveria chegar a Paranaguá somente dia 25 de agosto, não haveria tempo de inscrição no prazo pré-estabelecido.

A comissão julgadora levaria em consideração o valor artístico, o tamanho, a qualidade do material e o preço da obra, que não poderia ultrapassar a 50 mil contos de réis. Outra exigência era conter, na parte fronteira do pedestal, incrustrada, uma réplica do mapa em bronze do Brasil, conforme o desenho definido sob a direção do Barão. As maquetes classificadas em segundo e terceiro lugares seriam premiadas com 500 contos de réis.

Estátua do Barão em 2024/foto: JZ

O vencedor da licitação foi o artista Rodolpho Bernardelli. O mapa do Brasil está lá, aplicado no concreto, segundo alguns, com uma série de erros. Em um dos lados do pedestal, está gravada, em algarismos romanos, a data de nascimento do Barão (20/1/1845); da mesma forma, do outro, a do falecimento (10/2/1912). Atrás, também gravado na pedra, está o nome do presidente da comissão, João Gualberto Gomes de Sá Filho, que morreria poucos anos depois, na guerra do Contestado.

Patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco – na vida civil José Maria da Silva Paranhos Júnior – nasceu no Rio de Janeiro em 20 de janeiro de 1845. Era filho do Visconde do Rio Branco e de Thereza Figueredo Rodrigues de Faria. Diplomado em Direito em Recife, foi promotor público, deputado por Mato Grosso em duas legislaturas, jornalista, cônsul geral do Brasil em Liverpool (Inglaterra) e exerceu cargos diplomáticos em Berlim e Paris, até ser nomeado ministro das Relações Exteriores, permanecendo na função por 10 anos (1902-1912), mantido por quatro presidentes.

Como diplomata, resolveu uma série de problemas fronteiriços do Brasil, inclusive a questão do Acre, depois de crises e negociações com a Bolívia.

Paranhos Junior casou-se com Marie Philomène Stevens, uma atriz belga, em 1890, mas já vivia com ela desde 1872, com quem teve cinco filhos. Recebeu o título de Barão em 1888. Foi indicado ao prêmio Nobel da Paz em 1911. Morreu no Rio de Janeiro em 10 de fevereiro de 1912.

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