IEP, contagem regressiva para o centenário

Ilana Lerner: “Meu pai foi um visionário, um modernista à frente do seu tempo”/fotos: Eneas Gomez

Dois momentos importantes, na noite desta quinta-feira 6 de fevereiro, marcaram a solenidade dos 99 anos do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), no Espaço de Eventos da entidade: o lançamento da marca alusiva ao centenário e a palestra da jornalista Ilana Lerner sobre “Jaime Lerner e a visão positiva das cidades”.

A cerimônia – aberta com a execução do Hino Nacional pela Banda Lira Curitibana – foi comandada pelo presidente do IEP, engenheiro José Carlos Dias Lopes da Conceição.

Ilana, filha do ex-prefeito de Curitiba (três mandatos) e ex-governador do Paraná (duas gestões), puxou fundo o estilingue da história – para usar uma expressão que o próprio Lerner gostava – e voltou mais de meio século atrás, a partir de 24 de março de 1971, quando o engenheiro, arquiteto e urbanista, então com 33 anos, iniciou um amplo processo de transformação de Curitiba.

Antes, ainda, Lerner havia participado da criação do Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), que presidiu entre 1968-1969. Ilana falou dos conceitos de Lerner sobre cidades – espaços de encontro – e relembrou as transformações ocorridas na capital paranaense: a primeira, Física, com a implantação dos eixos estruturais e as canaletas exclusivas para ônibus, que possibilitaram a metronização do sistema (o sistema BRT/Bus Rapid Transit, cujo conceito nasceu em Curitiba, é hoje adotado em quase duas centenas de cidades no mundo).

A segunda, Ambiental, com a implantação dos grandes parques: Barigui, Barreirinha, São Lourenço e a primeira fase do parque regional do Iguaçu, além do mapeamento de quase 100 áreas verdes que, nos anos seguintes, seriam transformadas em outros parques e bosques.

A partir da esquerda: o presidente José Carlos Dias Lopes da Conceição; os ex-presidentes Nelson Luiz Gomez, Luiz Cláudio Mehl, Horácio Guimarães e José Rodolfo de Lacerda; o vice-presidente, Rodrigo Pasqual; o diretor técnico, Antônio Borges dos Reis; e os ex-presidentes Gilberto Piva e Cassio José Macedo.

O terceiro eixo de transformação foi o Cultural, da qual o primeiro passo foi a revitalização de um antigo paiol de pólvora, no Prado Velho, que virou teatro de arena – o Teatro do Paiol, inaugurado numa antevéspera de Natal, com show de Vinicius de Morais, Toquinho e Marília Medalha. E prosseguiu, nos primeiros tempos, com a definição do Setor Histórico e a criação da Fundação Cultural de Curitiba.

Já a transformação Sócio-econômica, alavancada pela Cidade Industrial de Curitiba, na região Oeste, gerou milhares de empregos e se constituiu num novo parâmetro de desenvolvimento. Resultantes dessas três, seguiu-se a transformação Turística. Aos hoje considerados ícones que compõem a paisagem da cidade, mais tarde, como governador, Lerner agregou o Museu Oscar Niemeyer, como o famoso “olho” dominando o cenário do Centro Cívico.

A marca do centenário

Para Jaime Lerner – destacou ela -, a cidade ideal integra todas as suas funções – residência, trabalho, lazer e comércio –, evitando a segregação e tornando os espaços urbanos mais saudáveis, seguros e acolhedores.

“Meu pai foi um visionário, um modernista à frente do seu tempo. Ele transformou Curitiba em um modelo global de urbanismo sustentável e mobilidade inteligente”, afirmou Ilana.

Ela reforçou que seu legado transcende a política e a técnica, deixando um aprendizado valioso para futuras gerações: uma cidade bem planejada pode transformar vidas, e deve ser vivida, sentida e cuidada como uma extensão da nossa própria casa.

Um detalhe bastante simpático da palestra de Ilana Lerner foi quando ela disse: “Quando falo da obra de meu pai, não falo apenas dele. Falo também de seus parceiros na transformação de Curitiba”. E citou alguns, já encantados, como Rafael Dely, Nicolau Klüppel, Carlos Eduardo Ceneviva, Manoel Coelho, Francisca Maria Rischbieter.

E lembrou também dos que permanecem na ativa, como os arquitetos Abrão Assad, autor do projeto do calçadão da rua 15, a primeira fase implantada em surpreendentes 72 horas, e Domingos Bongestabs, com o da Ópera de Arame, entre outros.

O legado de Jaime Lerner também foi destacado pelo engenheiro Rafael Érico Pussoli, que falou em nome do Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.

RUMO AOS 100 ANOS

Ao falar no evento, o presidente do IEP, José Carlos Dias Lopes da Conceição, destacou que a entidade segue inovando e se adaptando às novas demandas tecnológicas e sociais, consolidando seu papel no desenvolvimento do Paraná.

José Carlos Assunção: “Honrando o legado de quem veio antes de nós e pavimentando o caminho para as próximas gerações”

Ressaltou ainda a trajetória do Instituto e sua contribuição para o desenvolvimento técnico e urbano do estado: “Ao longo desses 99 anos, o IEP se tornou uma referência em desenvolvimento técnico-científico e cultural. Através de palestras, cursos, congressos, exposições e premiações, impulsionamos o conhecimento e fomentamos o progresso da Engenharia e da Arquitetura”.

O presidente também lembrou da atuação do IEP na valorização profissional e na regulamentação das carreiras, sendo peça-chave na criação de leis e normas que hoje regem a engenharia e a arquitetura no Brasil. Atualmente, com mais de 4.150 associados, a entidade mantém sua missão de fortalecer a área por meio de parcerias com empresas e órgãos públicos.

“Estamos nos preparando para o centenário do IEP, mantendo nosso compromisso com a excelência, a inovação e o desenvolvimento. Que possamos continuar inspirando e transformando o futuro, honrando o legado de quem veio antes de nós e pavimentando o caminho para as próximas gerações”, concluiu.

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