
Quando caminhava para o final de seu segundo mandato à frente da Prefeitura de Curitiba (1979-1982), o arquiteto Jaime Lerner foi convidado a fazer uma palestra na Universidade Estadual de Londrina. O jornalista Jaime Lechinski (que anos depois seria secretário de Estado da Comunicação Social de Lerner governador) e eu acompanhamos o prefeito.
Para ilustrar suas palestras, Lerner sempre contava ao final uma pequena história. Ou melhor, duas, que alternava em cada ocasião. A primeira, era de uma senhora de idade, dona de uma venda situada ao lado de um grande supermercado. O pequeno comércio vivia lotado diariamente e isso despertava a curiosidade das pessoas: como era possível sobreviver àquela concorrência? Perguntada, a boa velhinha respondeu:-
– É que na minha venda as pessoas se encontram e confraternizam.
A outra história levava a minas de carvão de uma cidade inglesa. Ao sair, carregados, os caminhões eram lavados para que não sujassem as ruas. Uma questão de consciência e urbanidade.
Quando chegou ao auditório, momentos antes do horário marcado para a palestra, às 19h30, Lerner encontrou apenas quatro estudantes na plateia. Ficou um tanto decepcionado, mas não pensou duas vezes:
– Falo para os quatro. – E iniciou a palestra.
Aos poucos, porém, foi chegando gente – alunos e professores – e o auditório, lotando. Logo, não havia mais cadeira vazia e os corredores foram ocupados. E a plateia fazendo perguntas. Sobre Curitiba, sobre cidades, sobre política, E o tempo passando. E Lerner ia respondendo a todas e suas respostas motivavam outras perguntas.
A essa altura, Lechinski e eu fizemos uma aposta sobre qual das duas histórias Lerner contaria ao final da palestra. Pelas 11 da noite, saí para tomar uma água e, quando voltei, a palestra estava encerrando sob demorados aplausos.
– E qual foi a história de hoje – perguntei -, da velhinha ou dos caminhões?
E o Lechinski, sorridente: – Ele ficou tão empolgado que contou as duas.