
“Uma cidade só é boa para o turista se, antes, for boa para seus habitantes”. A máxima, com variações, foi dita e repetida – e talvez nem tivesse sido ele o autor original da frase, o que não importa – pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner, três vezes prefeito de Curitiba, duas vezes governador do Paraná. O mentor das várias transformações registradas na Capital paranaense, das quais, como efeito colateral, resultou a transformação turística.
Lerner, antes de pensar no turista, pensou no morador de Curitiba, a quem dedicou as obras. E legou ao visitante cenários múltiplos de contemplação e de lazer. Questão de competência. Seus feitos, reconhecidos mundo afora, continuaram rendendo prêmios às administrações que se seguiram, com os sucessores se beneficiando dos louvores, alguns com mais, outros com menos, ou nenhuma, razão. É indiscutível negar que um dos prefeitos que vieram depois dele – Rafael Greca, sua cria na política – não seja dono de uma boa dose de competência e criatividade, a cujos dotes pessoais agregou os que soube aprender com o mestre.
O que está acontecendo no Centro Cívico, há quase uma semana, distorce a máxima: querem o bem do turista em detrimento do da população. Então encarcerando os moradores da região – e do resto da cidade que precisa circular diariamente por ali, a trabalho, a caminho da escola e, talvez, de um socorro médico – com aqueles cavaletes metálicos, tudo isso para dar guarida a um evento – patrocinado por um energético – para beneficiar fugazes momentos de emoção com peripécias sobre rodas. Alvará da dupla Ratinho&Eduardo.
E, de sexta-feira a domingo, o inferno será total. Tudo bloqueado. Tudo e todos ilhados. Nunca se viu coisa igual nos 332 anos de vida oficial de Curitiba que, por sinal, são comemorados neste março.
Belo presente de grego à cidade e aos moradores que a fazem grande no dia a dia.
Fechar a rua Emiliano Perneta aos domingos, para o lazer da população, é uma coisa. Uma atitude simpática. Aprisionar a avenida Cândido de Abreu e seu entorno é o absurdo dos absurdos.
Em nome do quê? Os hotéis podem estar lotados de gente curiosa sobre o tal espetáculo. Os comerciantes vão faturar. Os cofres oficiais serão forrados de reais.
Mas a população, ou parte dela, que merece ser respeitada, está em uma espécie de prisão domiciliar.