Adelino Alves da Silva, o Paraná em tempos pioneiros

Uma testemunha ocular das grandes transformações ao longo de boa parte da história do Paraná. Mais do que isso: um protagonista. Assim foi o engenheiro Adelino Alves da Silva, que morreu na terça-feira 22 de maio, em Curitiba, a menos de seis meses de completar 103 anos de idade, 47 dos quais dedicados ao serviço público – 11 como professor normalista e 36 como engenheiro.

Engenheiro Adelino: um currículo centenário
Foto: Enéas Gomez

O menino de Ponta Grossa, onde nasceu em 16 de novembro de 1915, que em sua cidade natal foi ajudante do pai, o pedreiro e mestre de obras Lúcio, e trabalhou em posto de gasolina como lavador de carros, já era, aos 20 anos, professor normalista. Diplomou-se em 1947 pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná, atual UFPR.

Com o diploma de engenheiro na mão, foi contratado no ano seguinte pelo DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem); antes, havia feito estágio no Escritório Técnico da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina, em Ponta Grossa, e realizado serviços de topografia para empresas construtoras.

Para obter o diploma, Adelino Alves da Silva, batalhou muito: na época do curso, a Universidade do Paraná era particular (só seria federalizada nos anos 1950) e o ensino era pago. Para custear os estudos, passou a dar aulas no Grupo Escolar Prieto Martinez, no Bom Retiro; na Penitenciária Central do Estado, no Ahu; e na escola da 5ª Companhia de Intendência do Estado, ensinando soldados.

No DER, Adelino fez de tudo: foi fiscal de obras, auxiliar de chefe de distrito, chefe de distrito rodoviário, chefe de seção e de divisão, assistente técnico, inspetor regional, gerente de supervisão de obras, e diretor administrativo (quando chegou a responder pela direção geral); foi ainda assessor do secretário dos Transportes, na gestão de Eurides Mascaranhas Ribas.

Aposentado, prestou serviços a empresas privadas, foi engenheiro fiscal e avaliador da Caixa Econômica Federal nas cidades do Norte pioneiro e primeiro diretor do Departamento de Obras, Viação e Serviços Públicos da Prefeitura de Guaratuba, no litoral do Paraná. No Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), foi conselheiro e diretor da Divisão de Transportes.

CAMINHOS PAVIMENTADOS

O engenheiro Adelino acompanhou as transformações do Paraná a partir de 1950, época em que o estado ainda não contava com estradas asfaltadas. No governo de Bento Munhoz da Rocha Neto, em 1952, trabalhava em Jacarezinho, Norte Pioneiro, quando o recém-empossado diretor do DER, o engenheiro e professor Luiz Carlos Pereira Tourinho, o convocou para atuar naquela que viria a ser a precursora de todas as rodovias paranaenses pavimentadas – a antiga BR 75, hoje BR 369, ligando Apucarana, Cambé, Londrina, Ibiporã, Cornélio Procópio e Santa Mariana.

Quando sete quilômetros da obra estavam prontos, o professor Tourinho o convidou para ser o primeiro chefe da nova seção de pavimentação. Foi o início de uma escalada profissional que o levou até a direção geral do DER, embora interinamente.

Em seu livro “Memórias de um professor e engenheiro civil”, editado pelo IEP em 2013, com a coordenação editorial do seu colega Ney Fernando Perracini de Azevedo, o engenheiro Adelino registra dados da construção de rodovias e pontes. Lembra, por exemplo, a importância para a época (segundo governo de Moisés Lupion e primeiro de Ney Braga) das pontes sobre os rios Iguaçu, entre Três Pinheiros e Pato Branco; Ivaí, entre Paraíso do Norte e Rondon; e do Caraguaçu, no litoral. Fala, também, dos tempos difíceis da construção da Rodovia do Café, alargada e concluída por Ney Braga e que foi a primeira na história do Paraná a receber financiamentos externos. E das dezenas de estrada que ajudou a construir.

“Vivi as dificuldades dos processos manuais, em que tinham grande influência nas licitações os números de galhotas (pequenas carroças de duas rodas) disponíveis”, conta no livro. E destaca a transformação para os processos mecanizados e aos equipamentos mais sofisticados, que melhoraram muito as condições de trabalho mas também geraram desemprego.

Em entrevista que concedeu em fevereiro de 2002 ao Mensageiro do IEP, órgão oficial do Instituto de Engenharia (que editei durante 15 anos e que passou a se chamar Jornal do IEP), Adelino Alves da Silva, filho de Lúcio Alves da Silva e de d. Maria Villela Alves da Silva, casado com d. Ivonete e pai de Glória Maria (nutricionista) Adelino Junior (engenheiro eletricista) e Marionei (administrador de empresas), demonstrava muita alegria ao recordar esses momentos de sua vida profissional, que lhe valeram muitas homenagens.

Dizia que o segredo da vida é nunca parar. Lia bastante e gostava de caminhar – “medir rua”, explicava. Várias vezes o encontrei caminhando pela avenida Manoel Ribas, no bairro Mercês, onde residia. Naquela época, aos 86 anos, estava prestes a concretizar um sonho antigo: a construção de uma casa de campo, nos arredores de Curitiba. “Ali – disse, sorridente – pretendo encerrar com tranquilidade meus dias”.

 

 

 

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