Claudino, o brevíssimo

Claudino dos Santos: apenas quatro meses de mandato/foto: reprodução de Personagens Históricos do Paraná/Acervo do Museu Paranaense

O segundo mandato de Cândido Ferreira de Abreu na Prefeitura de Curitiba chegava ao fim ao mesmo tempo em que encerrava o governo de Carlos Cavalcanti, que o havia nomeado três anos antes, em 1913. Caberia ao novo governador, Affonso Camargo, indiciar o novo prefeito curitibano e ele o fez na mesma data em que assumiu: 25 de fevereiro de 1916.

O advogado, escritor, autor teatral, jornalista, professor, juiz e ex-deputado estadual Claudino Rogoberto Ferreira dos Santos devia gozar de grande prestígio junto ao chefe do Executivo paranaense para, ao ser nomeado e empossado naquele 25 de fevereiro, na mesma data solicitar licença para tratamento de saúde. Ficou seis meses e uma semana afastado e, nesse período, foi substituído pelo vereador mais votado, João Antônio Xavier, que também presidia a Câmara Municipal e que já ocupara o cargo anteriormente, durante quatro meses, antes da segunda gestão de Cândido de Abreu. Xavier cumpria seu segundo mandato de vereador e passou a presidência da Câmara a Constante Pinto.

Ao reassumir o cargo, seis meses depois, em 1º de setembro de 1916, Claudino dos Santos justifica sua ausência no discurso de posse: “Nomeado prefeito municipal da capital, por Decreto de 25 de fevereiro deste ano, não me foi possível, por pertinaz enfermidade que me reteve ao leito, assumir logo o honroso cargo com que se dignou distinguir-me Sua Excelência, o senhor doutor Presidente do Estado (…) Ao enfrentar serviço de tamanha responsabilidade, maximé no momento em atual do organismo municipal não se reveste de aspectos risonhos, faço-o com o convicção enraigada de que, por mais assustadores que sejam os pontos de combate, o soldado nunca deve vacilar ante a ordem do comando superior (…).

E, adiante: “Aqui estou por isso; não que me tivessem seduzido os encantos do cargo, sua importância e superioridade (…) Não entro com a visão aturdida de quem descortina no horizonte traços luminosos, vendo somente no claro-escuro das tintas esbatidas perfis de alentadoras imagens, não; a retina prolonga-se ao encontro da linha visual percebendo ao longe nuvens negras e aspectos sombrios; no meio do esplendor do colorido, o presságio das tempestades; farfalhando ao torvelinho das nuvens prateadas o sopro das fortes ventanias rugidoras”.

Claudino pressentia um quadro de grandes dificuldades para administrar Curitiba, mas os “aspectos sombrios”, “as tempestades”, “as fortes ventanias rugidoras” manifestaram-se em sua vida pessoal.

Mal havia cumprido quatro meses de gestão e a saúde abalada o obriga a nova licença médica, em 8 de janeiro de 1917.  Vai ao Rio de Janeiro para se tratar. É operado mas morre em 31 de janeiro, aos 55 anos de idade. No Diário da Tarde do dia seguinte, uma nota de primeira página”: “Na Capital da República, para onde seguira em busca de melhoras para seu estado de saúde, bastante alterada por uma afecção intestinal, faleceu ontem o sr. dr. Claudino Rogoberto Ferreira dos Santos, atual governador de Curitiba. A notícia da morte do prestante cidadão causou a mais dolorosa impressão na sociedade paranaense, onde ele soube se impor pelos seus dotes de coração e qualidade morais”. Segue-se um perfil biográfico do prefeito falecido.

Em 3 de fevereiro, também na primeira página do Diário da Tarde, depoimento do médico Nabuco de Gouveia: “Para mim foi uma surpresa. Imagine que ainda ontem havíamos tirado todos os pontos da cissura, a fim de dar-lhe alta definitiva.  Não sei como, o dr. Claudino, de repente, transformando sua fisionomia, entrou em um período de agitação e, embora envidássemos todos os esforços, foi inútil (…)

O corpo foi levado de navio do Rio de Janeiro até Paranaguá, no litoral paranaense, de onde seguiu de trem a Curitiba. Da estação ferroviária, o cortejo subiu a rua Barão do Rio Branco, seguiu pela 15 de Novembro, 1º de Março (atual Monsenhor Celso), praça Tiradentes, até a Catedral. Ali foi celebrada missa pelo monsenhor Celso Itiberê da Cunha.

O vereador mais votado e presidente da Câmara João Antônio Xavier assume outra vez interinamente a Prefeitura e acaba ficando no cargo pelos três anos restantes, até a designação do novo titular, em 26 de fevereiro de 1920, Joao Moreira Garcez.

Claudino era pernambucano. Nasceu em Recife em 4 de janeiro de 1862, filho de Ignácio Ferreira dos Santos e Rosa Alexandrina Galvão. Segundo o Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná, de Ermelino de Leão, aos 21 anos, diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife. Em 1889 começou a escrever no “Diário de Notícias”, de sua cidade natal, mas logo transferiu-se ao Paraná, onde pretendia exercer a advocacia. No jornal “A Federação”, de Curitiba, defendeu a causa dos revoltosos, na Revolução Federalista (1893-1894) e, com a vitória do governo do presidente Floriano Peixoto, foi obrigado a se exilar na Europa. Anistiado, retornou, após breve passagem por Buenos Aires. Em Curitiba, foi fundador do Ginásio Paranaense. Foi também diretor geral de Instrução Pública (cargo hoje equivalente a secretário de Educação), e secretário de Interior e Justiça e de Obras Públicas e Colonização nos governos de Francisco Xavier da Silva e de Carlos Cavalcanti.

Foi ainda deputado estadual pelo Partido Republicano, eleito em 1906.

Era casado com Elvira Branco Ferreira dos Santos, com quem teve sete filhos: um deles, Arthur Claudino dos Santos foi deputado federal pelo Paraná.

Claudino é autor de vários livros de poesias e de peças teatrais e co-autor, com Alberto Monteiro, da revista musical “Lord Bing”.

Um dos relatórios de seu curto mandato informava: “Ainda não foi possível a montagem do elevador do edifício da Prefeitura (inaugurado em 16 de fevereiro de 1916, por Cândido de Abreu), bem como da fonte destinada à praça Eufrásio Correia. Acaba de chegar da Europa, segundo encomenda feita e paga, de um candelabro para a praça municipal, duas lâmpadas para a fachada do edifício e uma estatueta de bronze com o respectivo pedestal para o vestíbulo”.

Em outro trecho lamentava o não recebimento de um forno incineratório para o lixo da cidade, comprado pela Comissão de Melhoramentos na gestão Cândido de Abreu: “É este um dos melhoramentos, ou por outra, uma das necessidades mais urgentemente reclamadas não só pela higiene urbana como por todos os princípios que regem a sanificação das cidades. Acresce que não pequenas despesas já foram feitas com a escavação apropriada ao recebimento do mesmo. O despejo (do lixo) está sendo feito em local que já está reclamando medidas urgentes de profilaxia”.

O nome de Claudino dos Santos foi dado “à rua que vai da praça Coronel Enéas (largo da Ordem) à praça Dr. Farias sobrinho (atual Garibaldi), em obediência a lei aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito João Antônio Xavier em 24 de janeiro de 1918.

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