Confraria do Turismo, um preito a Claret

Claret: a cidade perdeu um de seus últimos cavalheiros
Foto: Vozes do Paraná

A Confraria de Turismo do Paraná, da qual ele era um dos patronos, homenageou na noite de 17 de outubro o jornalista Antônio Claret de Rezende, que faleceu dia 13 de setembro, aos 78 anos, depois de sofrer um AVC e complicações pulmonares. O evento foi realizado no restaurante Família Fadanelli, em Santa Felicidade, com a participação de cerca de 90 pessoas ligadas ao setor.

A organização do encontro foi do Sindetur (Sindicato das Empresas de Turismo do Paraná) e da Abrasel (seccional da Associação Brasileira de Restaurante e Bares). E teve a participação do vice-governador eleito do Paraná, Darci Piana, presidente do Sistema Fecomércio e um dos grandes incentivadores do desenvolvimento do turismo no estado.

Claret foi um dos mais destacados profissionais na área da promoção do turismo no Paraná. Trabalhou em vários veículos de comunicação, em Londrina e em Curitiba, e editava a newsletter digital Diplomacia & Turismo.

Esta foi a segunda homenagem póstuma a Claret, que também foi lembrado em fins de setembro no Café das Nações, tradicional encontro mensal organizado pelo Diário Indústria & Comércio do Paraná e o Corpo Consular.

Escalado pela organização da Confraria, fiz, na noite de 17/10, o seguinte pronunciamento, que me permito reproduzir aqui como homenagem ao grande companheiro e amigo e à sua família.

UM PERSONAGEM INESQUECÍVEL

“Convocado pelas entidades que promovem esta noite da Confraria – Sindetur e Abrasel – a falar na homenagem ao nosso grande companheiro Antônio Claret de Rezende, faço-o com um misto de alegria contida – por lembrar de um amigo tão querido – e de profunda tristeza – por não tê-lo mais fisicamente entre nós.

Não é uma palestra, não é um discurso.

É apenas uma conversa. Um bate-papo como os que tínhamos, e continuamos tendo, embora desfalcados de sua presença, nas horas vadias em torno do café.

Um dos nossos pousos semanais é o Café do Paço, na antiga sede da Prefeitura, e a cada quinta-feira ainda me surpreendo a visualizá-lo, chegando pela porta que emoldura o mercado de flores da praça Generoso Marques, as mãos no bolso, o meio-sorriso, olhando em torno em busca da nossa mesa.

Dizem que quando uma pessoa morre, morrem com ela todos os seus defeitos. E os obituários geralmente são feitos só de coisas boas.

Como é inerente aos humanos, Claret, como todos nós, tinha seus defeitos. Mas suas qualidades eram substancialmente maiores.

Não vou aqui tecer loas baratas e ocas. Palavras fáceis de ocasião.

Vou apenas falar daquele Claret que conheci.

Com a razão e o coração.

Vivemos e trabalhamos em caminhos paralelos nesta Curitiba desde que ele aqui aportou, no início dos anos 1970.

Vias paralelas que, felizmente, foram temporárias, ou que, num desafio à geometria, acabaram se encontrando em algum ponto. Transformaram-se em caminhos cruzados.

A data exata flutua em algum dos esconderijos da memória.

Mas parece que foi desde sempre.

Claret foi uma das pessoas mais éticas e íntegras que conheci. Um amigo leal e sempre presente, um parceiro de qualidade, um profissional do mais alto quilate. Um sinônimo de simpatia, sempre bem-quisto pela incrível legião de amigos que colecionou.

Além de amigo, era para nós uma espécie de irmão mais velho muito querido. E até de um pai, como lembrou o Júlio Cézar Rodrigues, idealizador desta Confraria ao nosso tempo da revista Panorama do Turismo, e hoje seu patrono junto com o Claret. Júlio o qualificou como “um fazedor de amigos”.

Em seu artigo “Antonio Claret de Rezende, o cavalheiro que parte”, o jornalista Aroldo Murá Haygert, disse que “a cidade perdeu um de seus últimos cavalheiros, um ‘gentleman’ na acepção da palavra”.

Disse mais: “O olhar profundo de Claret, atrás das grossas lentes, parecia remetê-lo às Alterosas, às serras sem fim, às prosas acolhidas e ampliadas nos serões familiares, ao abrigo de casarões históricos e ruas cobertas de ‘pés de moleque’, daquela gente que tem na alma a sabedoria do silêncio e o compromisso de suas convicções”.

Assim era o Claret. Assim ele continua sendo.

DAS MINAS GERAIS AO PARANÁ

Nascido na Pouso Alegre das Minas Gerais, em 16 de julho de 1940, um dos 10 filhos do ‘seu’ Antônio Pereira de Rezende e de dona Deolinda Alves de Rezende – ela hoje às vésperas do centenário -, marido de Tereza e pai de Marcos, Beatriz e Letícia, Claret era, acima de tudo, um ser que dignificava a raça humana.

Um dia sonhou ser padre. E para isso frequentou seminários – o de sua terra natal e o de Mariana, dos padres lazaristas da congregação de São Vicente de Paulo. O Claret, que se somava ao prenome Antônio, era uma homenagem ao santo fundador da congregação dos padres claretianos.

Claret forjou, ali, entre os ensinamentos da religião e do espírito, a sua trajetória de futuro. Tinha a base sólida herdada dos pais.

Talvez não sonhasse ser jornalista. Mas a sua linha de vida estava traçada: das Minas Gerais para a Londrina dos tempos áureos do café. Ali, pelas mãos de um pioneiro, João Milanez, fundador da Folha de Londrina, vivenciou as jornadas de repórter e redator. E ali ficou por 18 anos. Formou-se em Direito. Mas era o jornalismo que o fascinava.

Ainda em Londrina, atuou na TV Coroados e em emissoras de rádio. Firmou conceito. Era respeitado pelos colegas, superiores e autoridades. A roda da vida o trouxe a Curitiba, no início dos anos 1970, convidado por um antigo prefeito de Londrina, Milton Meneses, que vinha assumir a chefia da Casa Civil.

Fez carreira como jornalista na Assembleia Legislativa e trabalhou na lendária revista Panorama, dirigida pelo não menos lendário José Cury.

Assessorou governadores. Entre eles, José Hosken de Novais, de quem foi chefe de gabinete ao tempo de Hosken como vice-governador, e secretário particular quando ele assumiu o governo, completando o segundo mandato de Ney Braga, que renunciou para ser candidato ao Senado. Foi, ainda, secretário de Administração da Prefeitura de Campo Largo e assessor de comunicação do Tribunal de Justiça do Paraná.

Fundou, com os jornalistas Júlio Cézar Rodrigues, Júlio Zaruch e Sérgio Almeida, a revista Panorama do Turismo. Foi presidente da seccional Paraná da Abrajet – Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo por dois mandatos e um nome respeitado no segmento em todo o país. E conselheiro da Associação Paranaense de Imprensa. Entre tantas outras coisas mais.

Das inúmeras homenagens que recebeu, destacam-se a de Cavaleiro de Ordem do Rio Branco, outorgada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, e a Comenda do Sol Nascente Raios de Prata e Ouro, conferida pelo governo japonês. Foi um dos seis brasileiros a recebê-la e o primeiro brasileiro não descendente de família japonesa a merecê-la.

Um dia, Claret sonhou ser diplomata. Mas a voz das redações falou mais alto e ele realizou seu sonho de uma forma diferente. Como se fosse um porta-voz da diplomacia no Paraná.

No Diário Indústria & Comércio, a convite do diretor Odone Fortes Martins, assinou por 12 anos a coluna Mala Diplomática, reportando atividades de embaixadas e consulados. Depois, a continuou no jornal O Estado do Paraná e, mais recentemente, através de sua newsletter digital Diplomacia & Turismo. Sempre tão rica de fatos.

Sua trajetória findou precocemente naquela triste quinta-feira 13 de setembro de fim de inverno, deixando-nos todos órfãos. E chocados.

Mas é preciso respeitar os desígnios de Deus, embora certos fatos tristes em nosso entorno nos façam pensar, às vezes, em ficar de mal com Ele.

Claret cumpriu sua missão na Terra com dignidade, lisura, ética, lealdade, integridade. Continua vivo em nossa lembrança a servir de parâmetro para todos.

Peço licença para, aqui, fazer um breve parênteses, para citar alguns companheiros e amigos nossos do turismo hoje também encantados, com os quais, certamente, o Claret já está de prosa: Jorge Rutois, Luynes Langer, José Eduardo Molina,  Maurício Seleme, Américo Santesteban, Emerson Jabur, Amador Fonseca, Edmundo Tacla, Nelson Eberspacher, dona Leida Pereti Iglesias, uma presença sempre suave em nosso meio, o Celso Daniel, da Fenactur, eterno mestre de cerimônias dos encontros do Feijão Amigo. E os jornalistas que militaram na Abrajet: Senival Silva, Ivens Chevalier, José Machado Cordeiro, Dayse Regina Ferreira, Juril Carnasciali.

Para encerrar, palavras de Santo Agostinho: “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim”.

Antônio Claret de Rezende: foi um grande prazer conhecê-lo e um privilégio compartilhar com você boa parte de nossa vida.”

 

 

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