
Há uma história sobre o arquiteto Lolô Cornelsen – Ayrton João Cornelsen, que morreu na madrugada desta quinta-feira 5, em Curitiba – contada por ele mesmo numa sessão em sua homenagem na Câmara de Vereadores.
Lolô, um especialista em autódromos – entre suas obras estão os autódromos de Curitiba (PR), Jacarepaguá (RJ), Luanda (Angola) e Estoril (Portugal) -, estava sendo cobrado pelo governo de Angola para acelerar a conclusão do circuito, já que uma prova importante havia sido marcada para a inauguração e alguns imprevistos atrasavam os trabalhos.
A pista estava pronta, mas faltavam acabamentos. Havia muita pedra brita amontoada nas margens do circuito. Diante da pressa, Lolô mandou espalhar a brita ao longo da pista; as pedras seriam recolhidas mais tarde para reaproveitamento.
Ocorre que, durante a corrida, um dos carros saiu da pista e só não bateu nos guardrails porque ficou retido na brita espalhada.
Estava inventada a caixa de brita, que salvou a vida de tantos pilotos ao longo dos tempos.
Paranaense de Curitiba, Lolô Corselsen tinha 97 anos: nasceu em 7 de julho de 1922. Formou-se em engenharia e arquitetura pela então Universidade do Paraná (atual UFPR).
Trabalhou no Departamento de Urbanismo da Prefeitura de Curitiba, onde participou da implantação do plano diretor elaborado pelo arquiteto francês Alfredo Agache, nos anos 1940.
Foi diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná, sendo responsável, a partir de 1950, pela pavimentação de mais de 400 quilômetros de rodovias que interligaram o Estado, contribuindo diretamente para o desenvolvimento social e econômico paranaense.
Além disso, planejou a colonização do oeste e sudoeste do Paraná, estruturando diversas novas cidades com planos diretores, e foi responsável pelo projeto de alguns marcos do urbanismo, entre eles a Rodovia do Café, a Estrada da Graciosa e o ferry-boat de Guaratuba.
No governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi escolhido para divulgar a arquitetura brasileira no exterior.
Seu portfólio de obras inclui ainda casas modernistas, clubes, hospitais, escolas, campos de golfe e hotéis em países da Europa, África, América do Norte e do Sul.
Lolô Cornelsen também deixou sua marca no futebol: como jogador, foi campeão pelo time amador do Atlético Paranaense, em 1943/44 e pelo principal, em 1945.
Foi ele quem criou o escudo com o tradicional CAP estilizado e inspirado no estilo barroco, que vigorou até 2019, quando o rubro-negro passou a se chamar Athletico com H.
Lolô foi também o autor do projeto original do Estádio Couto Pereira, do rival Coritiba, e da Vila Olímpica do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro.
Deixa quatro filhos, sete netos e sete bisnetos.
E um legado de realizações.