O centenário Paço da Liberdade de tantas histórias, exemplar que domina a praça Generoso Marques, Centro de Curitiba – inaugurado em 1916 pelo prefeito Cândido Ferreira de Abreu, foi sede da Prefeitura até 1969, Museu Paranaense até 2002 e hoje é templo de cultura administrado pelo Sesc, depois da restauração, há quase uma década pela Fecomércio-PR – será o cenário, neste sábado 27/1, a partir das quatro da tarde, do lançamento de um livro que conta boas histórias.
“Histórias da música produzida em Curitiba e dos músicos que ajudaram a escrever a história da cidade com notas musicais”, como define o autor de “Curitiba no tempo do Jazz Band”, o talentoso jornalista paranaense Adherbal Fortes de Sá Junior.
O recorte histórico de “Curitiba no tempo do Jazz Band” retrata o ciclo do café, que começou no início do século 20 e atingiu o seu auge na década de 1960. Além de uma explosão demográfica e de desenvolvimento social para o Paraná, a economia cafeeira também influenciou o cenário musical de Curitiba, onde passaram a brilhar grandes instrumentistas, compositores e cantores.
Como conta o autor na obra, Curitiba passou a ser um grande centro musical. “Havia bons músicos e orquestras bem afinadas. Cada emissora de rádio tinha orquestra e conjunto regional. Clubes, cafés, restaurantes e hotéis procuravam músicos. A demanda maior era das casas noturnas, que se multiplicavam no centro da cidade. A cena ganha efervescência durante um quarto de século, que começou em 1950, com a eleição de Getúlio Vargas, e as festas do centenário da emancipação política do Paraná. A festa de jazz e bossa nova só perdeu o brilho quando a geada negra de 1975 devastou praticamente a totalidade dos pés de café existentes no estado”.
“Curitiba no tempo do Jazz Band”, editado pela Artes & Textos, utilizou parte da pesquisa realizada para o projeto cultural “Vestido Branco, Uma Aventura Musical”, assinado por ele em parceria com a jornalista Miriam Karam.
BANDAS E MÚSICOS FAMOSOS
Raul de Souza, que trocou o trombone de válvula pelo de vara e foi considerado pela revista DownBeat um dos maiores do mundo, faz parte das histórias contadas no livro. Ele era um dos 20 músicos do Rio de Janeiro que, no final dos anos 50, foram recrutados para formar a Banda da Base Aérea da Aeronáutica em Curitiba. Durante o dia, os “cariocas” tocavam dobrados militares. À noite, tiravam o uniforme para formar a Orquestra 14 Bis e tocar bebop e cool jazz nas rádios Guairacá e Clube Paranaense.
A 14 Bis concorria com as orquestras de Genésio Ramalho e Angelo Antonello nos bailes da cidade. Já a orquestra do maestro Beppi (Giuseppe Bertollo) era exclusiva da Caverna Curitibana, imenso “taxi-girl”, com salão de 600 metros quadrados, que funcionava no porão do Clube Curitibano.
No livro, Adherbal também relata as carreiras de Breno Sauer, que montou um quinteto inspirado no vibrafone do Modern Jazz Quartet e fez sucesso em Curitiba e São Paulo (boates Oasis, Baiuca e La Vie em Rose), seguindo depois para o México e Estados Unidos, e de Gebram Sabbag, que Luizinho Eça e outros craques consideravam o maior jazzista do Brasil. Mesmo com esse título, Sabbag nunca aceitou convite para sair de Curitiba.
“O livro pretende homenagear a arte desses músicos que nasceram ou escolheram Curitiba para palco de seu talento”, enfatiza o jornalista.
A pesquisa original para o projeto “Vestido Branco” e que foi usada para a redação do livro consumiu oito anos de trabalho. As 300 entrevistas com músicos, empresários da noite e frequentadores das rodas de jazz e bossa nova foram feitas por por Susy Murakami, Felipe Laufer e Murilo Alves Pereira. O resultado revelou que o Brasil musical de 1960 era um arquipélago, sem comunicação entre as suas ilhas. Raros talentos deixavam Curitiba para tentar o sucesso no Rio de Janeiro ou em outros centros, como aconteceu com o Quarteto Bitten-4, liderado por Palminor Rodrigues Ferreira, o Lápis, que se apresentou para uma plateia de 30 mil pessoas no Maracanãzinho, na final do Festival da TV Excelsior.
Para comprovar essa “invisibilidade histórica” dos artistas de Curitiba, Adherbal tentou achar fotos, filmes ou um frame de vídeo tape daquele momento. Nada sobrou, mas o resgate é feito nas páginas de “Curitiba no tempo do Jazz Band”.
Adherbal Fortes trabalhou em jornais e TVs de Curitiba e foi coautor, com Paulo Vítola, dos musicais “Cidade Sem Portas” e “Terra de Todas as Gentes”, o primeiro encenado durante um ano no recém-inaugurado Teatro do Paiol e o segundo escrito para inaugurar o grande auditório do Teatro Guaíra, em 1975.