A Linha Turismo de Curitiba completa 25 anos nesta terça-feira 9 de julho. A viagem inaugural, há um quarto de século, foi numa ensolarada tarde de sábado de 1994, diante da Catedral-Basílica de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais – padroeira da cidade -, com a presença do prefeito Rafael Greca (então em sua primeira gestão) e do ex-prefeito Jaime Lerner, que colocou em prática, a partir de 1971, quando governou Curitiba pela primeira vez, uma verdadeira revolução urbana.
Na terceira gestão de Lerner à frente do Palácio 29 de Março (1989-1992), tinham sido criadas linhas especiais para os parques da cidade, chamadas de PróParque. Greca, alguns meses após se instalar no gabinete principal do Palácio, em janeiro de 1993, idealizou consolidar essas linhas num grande itinerário que contemplasse os parques e os novos ícones da vida curitibana, como Jardim Botânico, Ópera de Arame, Universidade Livre do Meio Ambiente, entre outros.
Na época, eu era diretor de Turismo da cidade e fui encarregado pelo prefeito de formatar o percurso. Nossa equipe era pequena, mas valorosa e, aos poucos, foi desenhando no mapa de Curitiba, os primeiros esboços do que seria o roteiro definitivo.
A operação seria entregue a empresas regulares do transporte coletivo urbano; a coordenação, à Urbs (Urbanização de Curitiba), órgão que rege todo o sistema. O Turismo seria responsável pelas demais providências.
Inicialmente, foi cogitada a compra de ônibus de dois andares, que a Prefeitura de São Paulo, à época do prefeito Jânio Quadros, havia adquirido em Londres. Os famosos “double-decks” vermelhos. Jânio comprou mas não utilizou. Acabamos chegando tarde. Os veículos já tinham sido todos vendidos a particulares.
Passamos, então, a uma solução caseira. E assim surgiram as famosas jardineiras, que cumpriram seu papel durante bons anos.
O projeto das jardineiras foi encomendado ao escritório do arquiteto Manoel Coelho – autor, então, da nova programação visual da cidade e de muitos outros projetos de importância.
Na carroceria, desenhos dos ícones das atrações do percurso.
Precisávamos da aprovação do prefeito e o trâmite burocrático se mostrava lento. Até que, em 17 de março de 1994, data do aniversário de Greca, e aproveitando uma comemoração com bolo e gasosa Cini no gabinete, entrei com o projeto e, informalmente, apresentei-o como “um presente de aniversário”.
Greca gostou do que viu, sacou a caneta, autorizou e determinou as providências necessárias. Entre goles de gengibirra.
Aí, surgiu a primeira dificuldade: nenhuma das grandes empresas de carroceria no Brasil interessou-se em confeccionar as carrocerias, em função do pequeno número: seis. Questão de escala.
A Urbs, então, descobriu um fabricante em Colombo, cidade da região metropolitana de Curitiba, e ali as jardineiras foram montadas artesanalmente sobre chassis de ônibus de ônibus usados.
Todas em cor branca, com os ícones aplicados.
Enquanto isso, a nossa equipe do Departamento de Turismo finalizava o itinerário, eu preparava os textos de cada atração para as gravações, então em fita cassete, em português, espanhol e inglês. Mesmo com a tecnologia rudimentar da época foi possível prestar um bom serviço de informação. Hoje, com os avanços da informática, tudo fica mais fácil.
Desde a sua implantação há 25 anos, a Linha Turismo tem praticamente a mesma estrutura, com partidas de 30 em 30 minutos, parando em cada ponto para embarque e desembarque dos passageiros.
No começo, eram 15 locais e 33 quilômetros de percurso, que logo foram ampliados para 22, com 40 quilômetros e duas horas de duração, com saídas das 9h às 17h30, com a inicial na praça Tiradentes, diante da Catedral.
Seguia pela Rua das Flores, Rua 24 Horas, Centro de Convenções, Teatro Paiol, Jardim Botânico, Rodoferroviária, Passeio Público/Memorial Árabe, Centro Cívico, Bosque do Papa/Memorial Polonês, Bosque Alemão, Universidade Livre do Meio Ambiente, Parque São Lourenço, Ópera de Arame, Parque Tanguá, Parque Tingui, Memorial Ucraniano, Portal Italiano, Santa Felicidade, Parque Barigui, Torre Mercês e Setor Histórico.
Hoje, são 24 pontos de parada, trajeto de cerca de 45 quilômetros e perto de três horas de passeio. A tarifa, que no começo se equiparava à do transporte coletivo normal, e assim atendia também a população curitibana, hoje custa R$ 50, com o cartão-embarque valendo por 24 horas, um avanço. O cartão substituiu o antigo tíquete que permitia um embarque e três reembarques.
Alguns pontos foram eliminados e outros incluídos, como Museu Oscar Niemeyer, Paço da Liberdade e Museu Ferroviário.
Hoje, a Linha Turismo é cumprida a bordo de modernos ônibus de dois andares, continua circulando de terça a sábado; às segundas, somente nas férias escolares e em feriados nacionais.
Mas as velhas jardineiras ainda estão a postos para cumprir o roteiro quando a demanda é muito grande.