
O giz colorido, fino e triangular, de pontas levemente arredondadas, vai deslizando sobre o tecido, comandado pelas mãos hábeis do artesão. Desce por longa linha reta, chega à base, nova reta, menor, e sobe novamente, do outro lado, obedecendo aos números anotados no livro de medidas: do paletó, com o cliente ainda vestido com a peça, comprimento e largura das costas e comprimento das mangas; sem o paletó: a circunferência do tórax, da cintura e dos quadris, altura dos ombros e o caimento, geralmente zero quando o freguês não tem problema de inclinação da coluna. Nas calças, altura da cintura até a barra, altura das entrepernas, circunferência da cintura, larguras do joelho e da barra e comprimento da braguilha, a abertura da parte dianteira, que receberá botões ou zíper.
Na sequência, o giz compõe as pequenas curvas das cavas das mangas e os contornos da gola. E segue adiante. Aos poucos, vai dando forma ao traje, que pode ser um terno completo (paletó, calça, colete), apenas um blazer avulso ou uma calça. Até mesmo uma casaca, um smoking ou um summer, destinados a ocasiões mais solenes. Ou um sobretudo para os dias frios.
Uma prévia desses traços tão habilmente riscados já havia sido feita em papel – o chamado molde -, com lápis grosso ou caneta, dando rumo ao que seria reproduzido na fazenda, o tecido. (Os moldes eram guardados sem qualquer ordem alfabética, mas o mestre-alfaiate, magicamente, os encontra sem problemas na primeira busca). Depois, viriam as provas, a primeira ainda com a roupa em alinhavo (a costura feita a mão, de largos pontos), para os ajustes.
Meu pai, Jorge Zaruch, cumpriu essa rotina ao longo de 70 anos. Começou aos 12 e parou no início dos 80.
Neste 2 de fevereiro, dia consagrado a Nossa Senhora dos Navegantes, ele completaria 100 anos de vida. Nasceu em Curitiba, em 1921, filho de Elias João Zaruch e Thâmara Miguel Zaruch, ambos vindos da pequena Mashta al-Helu, cidade a noroeste da Síria.
Jorge foi o quarto, ou quinto, filho. Isso porque era gêmeo de seu irmão Cypriano, com o qual trabalhou e foi sócio a vida inteira; não se tem notícia de quem veio à luz antes.

Elias e Thâmara, meus avós, tiveram sete filhos, todos homens: Isac, conhecido como Chico, dono de restaurantes e bares (hoje, seria um chef de cozinha de muito talento); Teófilo, feirante em São Paulo; (aqui um breve parêntese: por pixotada, ou burrice, de funcionários do cartório, na certidão de nascimento de ambos foi omitido o sobrenome Zaruch; ficou apenas Isac João e Teófilo João).

Depois vieram João Elias, que também por erro de cartório teve o sobrenome grafado como Saru: foi comerciante em Curitiba, no ramo de tecidos e importados; Jorge e Cypriano (chamado de Abrão na intimidade), que foram alfaiates e sócios em empreendimentos imobiliários; Manif, que viajou o Brasil como vendedor de peças de automóveis (FoMoCo, de Ford Motors Company), foi depois funcionário do Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas e dirigiu a Imprensa Oficial da Universidade Federal do Paraná; e Luiz Elias, representante comercial de multinacional, o único vivo hoje.
Em 5 de maio de 1945, Jorge casou-se com Maria Júlio: tiveram dois filhos, Luiz Júlio e Marilene, e duas netas: Juliana e Fernanda. Viveram felizes um matrimônio de 61 anos, interrompido com a morte de minha mãe, aos 80 anos, em 19 de junho de 2006; Jorge faleceu três anos depois, dia 12 de março, pouco mais de um mês após completar 88 anos. Teria ficado imensamente feliz ao saber que, oito anos depois, seria bisavô de Roberta e Caetano, gêmeos como ele, filhos de Juliana (casada com Marco Pimentel), irmã de Fernanda, ambas filhas de Luiz Júlio e Tania Giamberardino Zaruch.
UMA DECISÃO OUSADA
Jorge e Cypriano aprenderam o ofício de alfaiate já aos 12 anos de idade, na alfaiataria de Muzillo e Levandowski, em Curitiba. De aprendizes, cresceram na escala profissional até se transformarem em oficiais e depois em mestres. Conviveram com um cenário de tecidos, aviamentos, botões, réguas de vários formatos (uma delas curva, parecendo uma enorme vírgula), fitas métricas, retroses, máquinas de costuras, manequins, ferros a brasa e elétricos, tesouras de todos os tipos, algumas imensas, dedais, agulhas, alfinetes, espelhos e tantas coisas mais.

Primeiro trabalharam na casa dos pais. Em março de 1949 resolveram se instalar em local próprio. E numa decisão ousada, escolheram como endereço a principal via do centro da cidade: a avenida João Pessoa, atual Luiz Xavier, número 49, ao lado do antigo e famoso Braz Hotel, de cuja sacada Getúlio Vargas fez um comício no início dos anos 1950. Alugaram o segundo andar, com vista para a rua, do prédio onde, no térreo, funcionava a loja Bolsa Chic, de artigos de couro, pertencente aos irmãos Knopfholz, donos do imóvel, e, no primeiro, uma espécie de cassino. Mais tarde, ficaram também com esse espaço.
A Alfaiataria ‘A Moda’ funcionou ali, na depois chamada Boca Maldita, durante 21 anos, quando mudou para imóvel próprio, na rua Cruz Machado, 460, esquina da Voluntários da Pátria, não muito distante. Jorge e Cypriano atendiam a clientela no primeiro andar; os oficiais de alfaiate, que chegaram a ser em número de vinte, davam forma aos paletós nos salões do segundo, obedecendo aos detalhes do tipo de gola, número de botões, bolsos embutidos ou chapeados, transpassados (os chamados jaquetões), entre outros. Os calceiros eram terceirizados.
As sacadas do primeiro e no segundo andar eram camarotes privilegiados para contemplar os acontecimentos que se sucediam na chamada “menor avenida do mundo”: o tráfego movimentado de veículos, os pedestres ainda confinados aos dois lados da calçada, os desfiles de Carnaval, da Semana da Pátria, a Corrida do Facho no dia do Soldado, e dos tipos pitorescos da cidade como Bataclan, Maria do Cavaquinho, Saca-Rolha, Esmaga, entre outros, que por ali passavam ou faziam ponto.

A alfaiataria tinha como vizinhos de lado, além do Braz Hotel, os cinemas Palácio e Avenida, o primeiro no térreo do Edifício Garcez, “arranha-céu” pioneiro de Curitiba, e lojas como Tarobá, de eletrodomésticos, Madame Odete, de chapéus para senhoras elegantes, a Joalheria Soberana e o bar Guairacá. Na esquina da travessa Oliveira Belo, estava a panificadora Berberi e logo adiante os bares Mignon e Triângulo, já na rua 15. E fazia frente com o cine Ópera, o edifício Tijucas, o Plaza Hotel, uma sorveteria, cujo local, anos mais tarde, daria lugar a uma loja de tecidos e depois à livraria Curitiba, entre outros. Na entrada do prédio, ao pé da escadaria, funcionava uma loja de canetas.
A Bolsa Chic, cujo depósito do estoque ficava na parte dos fundos do segundo andar, tinha ali um telefone, que a alfaiataria eventualmente utilizava. Nunca esqueci do número: 2934, que ganhou o prefixo 4 quando o sistema foi automatizado.
Emissoras de rádio disputavam a sacada do primeiro andar da alfaiataria para transmitir os desfiles de Carnaval, que depois foram transferidos para a avenida Marechal Deodoro.
Pelo local, na qualidade de clientes, passaram nomes de destaque da vida paranaense, políticos, deputados, prefeitos, juízes, desembargadores, esportistas, empresários, jornalistas, profissionais liberais de todos os matizes. Era uma espécie de ‘Senadinho’, muitas vezes em torno da cuia do chimarrão que aquecia as conversas.
Consultando antigos papéis da empresa, vejo um desfile de nomes nos livros de medidas e de notas fiscais dessa primeira fase: Enzo Scaletti, Amilcar Saporiti, Flávio Gomide, Jesumir Uba, Samuel Aizental, Tony Bruinjé, os Moro (Domingos, Ulisses, Gláucio, Mauro), os Tacla (Elias, Salim, Issa, Arnaldo, Nage, Adir, Samey, Munir), os Knopfholz (José, Henrique, Leão, Calmon), os Omairy (Hussein, Hassan, Faiçal), os Zacharias (Miguel, Manif, Assib), os Parodi (Newton, Gastão), os Braz, os Bark, Salomão Kak, José Ribamar Gaspar Ferreira, Elias Feder, Aramis Meyer Costa e irmãos, Egon Krügger, Luiz Henrique Silva Pinto, Edmar Cunico, Guido Wenske, Gabriel Baron, Geraldo Russi, João Anfilóquio de Souza, Luiz e Ernesto Pontoni, Cândido Gomes Chagas, Heitor Baggio Vidal, Murilo de Quadros Lupion, Honorato Lupion Pereira, Leo Wahrhaftig, Fernando e David Carneiro, Dulcídio Beira da Silva, Ary de Jesus Silva, Gaudino Ronconi, os Vialle (João Carlos e Ângelo), Eugênio Bertolli, Elgson Ribeiro Gomes, Bruno Macioro, Waldir Jansen de Mello, Joaquim Braz e tantos e tantos outros.
Lembro vivamente de muitos deles. Eu ia ali aos sábados, dias sem aula, e ajudava na entrega de ternos e na compra de aviamentos, geralmente em lojas especializadas como Mundo das Casimiras, Huddersfield e Casa dos Três Irmãos. E, curioso, ficava ouvindo as conversas.
NA CRUZ MACHADO
No dia 2 de março de 1970, Jorge e Cypriano Zaruch transferiram a Alfaiataria ‘A Moda’ para a rua Cruz Machado, num prédio de dois pavimentos que haviam construído. O endereço era novo, mas o ambiente continuava o mesmo, com as grandes prateleiras recheadas de peças de tecidos como casimiras, tropicais, alpacas, cambraias, sarjas, camurças, tweeds, de marcas como Santa Branca, Covilhã, Scuracchio, Aurora, Santista, nacionais e importadas, algumas com a inscrição ‘Made in England’ em dourado ao longo da orela, a margem do corte. Nos finais de ano, eu auxiliava na elaboração do balanço do estoque, abrindo e medindo cada peça.
Nesta segunda fase, a alfaiataria continuava movimentada, cada vez com mais clientes. Entre eles, os prefeitos de Curitiba Ivo Arzua Pereira, Omar Sabbag e Saul Raiz, A clientela tradicional acompanhou a mudança. Boa parte foi renovada, com os filhos dos antigos fregueses.

E as rodas de chimarrão corriam soltas, pela manhã e à tarde, frequentada por nomes como Gilberto Moraes, médico e ex-prefeito de Bocaiuva do Sul, que começou a vida como alfaiate; o também médico Wadih Ruppolo; Afonso Newton; Jaime Strozzi; os irmãos portugueses Aurélio Joênio e Joênio Aurélio de Mendonça; Antonio del Claro; o cartorário José D’Amico; Amir Assef, empresário de Araucária; Diny Merlin, do ramo de materiais de construção; Jorge Malucelli, de Irati; Rubens Plois, empreiteiro de obras públicas; Miguel Abrão, comerciante; Cícero Müller, um ávido leitor e contador de histórias, sempre com seu guarda-chuva cuja ponta era protegida por uma tampa de caneta Bic, à qual, às vezes, agregava uma tampinha de creme dental.
Além da alfaiataria, Jorge e Cypriano implantaram, com outros sócios, vários loteamentos em Curitiba e na Região Metropolitana, todos hoje integrados à malha urbana. E contribuíram para o desenvolvimento dos bairros Santa Cândida, Campo Comprido, Orleans e dos municípios de São José dos Pinhais e Colombo.
No âmbito classista, os dois também participaram da Associação Beneficente dos Alfaiates do Estado do Paraná (cujo lema era “Roupa feita, por mais bem-feita, nunca é perfeita. Vista-se sob medida”) e do Sindicato das Indústrias de Alfaiataria. No Sindicato, Cypriano foi suplente da diretoria em vários mandatos, entre 1977 e 1980; Jorge, do Conselho Fiscal, no mesmo período; com a morte prematura do irmão, aos 69 anos, vítima da AVC, em 13 de setembro de 1990, Jorge passou a ocupar o lugar dele na diretoria, ali permanecendo até 2009, ano de seu falecimento, em 12 de junho.
TRABALHO RECONHECIDO
Em seu livro “Curitiba no tempo do Jazz Band”, lançado em 2018, o jornalista Adherbal Fortes de Sá Jr., ao citar nomes de destaque de músicos paranaenses, assim se refere a um deles, o extraordinário pianista Gebran Sabbag: “Então caminhava pela Monsenhor Celso num passo sem pressa até a praça Carlos Gomes, onde ficava o Manhattan. Vestia terno azul marinho, cinza ou preto, sob medida, bem cortado pelo respeitado alfaiate Jorge Zaruch”.

Os Zaruch foram várias vezes citados na imprensa em matérias sobre alfaiates. Em sua edição de 21 de março de 1986, o jornal Correio de Notícias, de Curitiba, publicou matéria de página inteira – “O discreto charme da alfaiataria” -, assinada pela talentosa jornalista Rosirene Gemael (1950-2011), onde, em determinado trecho, destaca: “Jorge e Cypriano Zaruch, irmãos gêmeos de 65 anos, no ofício desde os doze e proprietários de uma das casas mais tradicionais da cidade, completam o quadro (da situação da profissão): já tiveram até 20 oficiais de alfaiate e hoje têm apenas cinco empregados, dos quais apenas três fixos.
E prossegue: “Segundo eles a melhor época foi a de Juscelino (Kubitschek), e do eldorado do Norte do Estado, quando os fazendeiros faziam fortuna com o café e vinham a Curitiba para fazer os trajes de novos ricos. ‘Hoje o que se vê é a total decadência do vestuário, pelo empobrecimento da população. De cada mil jovens, três têm terno. Muita gente aparece aqui pedindo para alugar’. É por isso que seo Jorge faz uma profecia e, apesar de não acreditar na extinção da profissão, afirma convicto: ‘Daqui a cinco anos, só milionário fará roupa sob medida. A escassez do profissional será tão grande que o preço da mão de obra será proibitivo’”.
Mais adiante: “Talvez por manter o tradicionalismo das velhas alfaiatarias é que ‘A Moda’ dos irmãos Zaruch reproduza hoje, quase solitária, o clima de máxima fidelidade das mais legítimas casas do ramo de décadas passadas. Inclusive a boêmia e a cumplicidade. Conhecida como o ‘Senadinho da Cruz Machado’, corre em seu andar térreo, duas vezes por dia e diariamente, uma animada roda de chimarrão, partilhada entre os fregueses mais antigos e que já viraram amigos da casa”.
Finaliza: “Há dias que o Senadinho da Cruz Machado chega a reunir até quinze adeptos do chimarrão e da confraria da camaradagem da alfaiataria. Mas acontece, de vez em quando, de não aparecer ninguém (…) ‘Hoje não apareceram nem os perus’, completa seo Cypriano, com saudade dos tempos em que todos precisavam passar pelo alfaiate, o artesão que está desaparecendo, atropelado pela indústria da confecção”.

A Veja Paraná (Vejinha), de 31 de outubro de 1990, em reportagem com chamada no índice – “Artífices da elegância” – e matéria de duas páginas com o título “Roupa sob medida”, assinada pelo jornalista Ernesto Bernardes, refere-se a vários profissionais e destaca, ao final: “Se no passado a transmissão hereditária da profissão não era regra, é certo que era bastante comum a contratação de aprendizes, o que não se faz mais hoje devido às leis trabalhistas. ‘Desse jeito, em dez anos, não vamos mais ter alfaiates’, lamenta-se Jorge Zaruch, 69 anos, outro dos veteranos da agulha e da tesoura. Ele, que já cortou os ternos de vários ex-prefeitos – Ivo Arzua, Omar Sabbag, Saul Raiz -, acredita que as pessoas de maior poder aquisitivo vão continuar comprando roupas sob medida”. Ao final, Jorge Zaruch afirmava que logo seria necessário importar alfaiates: ‘Na década de 50, nos Estados Unidos, foram aposentados mais de 3.000 mestres alfaiates. O país ficou tão desguarnecido que tiveram de mandar buscar os mestres italianos a peso de ouro’”.
Na mesma semana, Jorge foi entrevistado pela Gazeta do Povo (28/10), quando fez as mesmas constatações na matéria “Alfaiate, uma profissão ameaçada”.

Em 12 de julho de 1993, em página inteira do Diário Indústria & Comércio do Paraná”, sob título “S.O.S. Alfaiates”, a jornalista Cláudia Belfort Malkes também aborda a questão. Em determinado trecho, cita o depoimento do empresário José Sartor de Oliveira: “Com 1m89 metro de altura ele é cliente da alfaiataria Irmãos Zaruch há 30 anos. ‘Com este tamanho não consigo achar roupa que me sirva’, explica. Para Sartor os ternos confeccionados por alfaiates também têm mais durabilidade, porque usam tecidos de boa qualidade e as costuras são mais firmes. ‘Tenho um terno com mais de 20 anos’”.
Parágrafos adiante, a matéria cita: “No passado, qualquer homem tinha no mínimo dois ternos; um de uso diário e um domingueiro”, lembra Jorge Zaruch, 72 anos. Para ele a época do presidente Juscelino Kubitschek foi a que os homens se vestiram melhor. ‘Ele foi um dos poucos presidentes elegantes e servia como exemplo’”.
A revista Paraná & Cia, de 10 de abril de 1998, fala de “Uma arte perto do fim”, matéria assinada por Murilo Mendes. Um trecho: “Tudo parece conspirar contra os alfaiates. ‘A profissão é muito trabalhosa e pouco lucrativa’, informa Jorge Zaruch, espécie de presidente de honra da associação dos mestres alfaiates de Curitiba. Ele tem 77 anos de vida e 65 de profissão. Sua alfaiataria, na rua Cruz Machado, está na área onde estão concentrados os reis da tesoura, agulha e dedal da cidade – em torno das praças Tiradentes e Osório. Zaruch, que é descendente de árabes e aprendeu a profissão com Nelson Amaral e na Alfaiataria Levandowski, não vai deixar herdeiros. ‘Conheço todos os alfaiates de Curitiba e nenhum deles está preparando o filho para assumir o lugar’”.
PRESENÇA NO ROTARY
Além de suas atividades profissionais e da participação classista, Jorge Zaruch foi fundador do Rotary Clube de Curitiba Mercês, em 1970, ali permanecendo por quase quatro décadas; foi um dos mais assíduos e atuantes, tendo sido tesoureiro da entidade por muitos anos. Nunca quis ser presidente.

No Rotary, foi eleito Pai do Ano, em 1991, Profissional do Ano 2000 e ao se desligar do Clube, por problemas de saúde, mereceu grande homenagem. (Entre seus troféus, Jorge Zaruch sempre se orgulhou da medalha de ouro de “Exímio Alfaiate”, conferido em agosto de 1998 por sua associação de classe, da qual foi Presidente de Honra).
Em palestra no Rotary Mercês, nos anos 1980, teve a oportunidade de discorrer sobre o trabalho do Alfaiate: “Uma profissão que, lamentavelmente, com o passar dos anos, vai tendo menos gente a exercê-la, para tristeza de nós, antigos alfaiates, e para a preocupação daquelas pessoas que se acostumaram a envergar trajes sob medida”, disse ele.
Mais adiante: “Poucos imaginam, ao contemplar um homem bem vestido, como é o desenrolar das diversas etapas da confecção de uma roupa. Pois, do preparo do molde, em papel, ao pregar do último botão, passando pela fase do alinhavo e das provas preliminares, este trabalho artesanal exige muita paciência e muita atenção do profissional da linha, da agulha e da máquina de costura. Às vezes, um pequeno erro pode ser fatal. Mas é grande a satisfação de ver o trabalho pronto. Do cliente bem servido. De ver a obra desfilar pelas ruas, pelos salões, pelas casas, pelos escritórios”.
E discorreu sobre o lado que considerava menos elegante da profissão: “O Brasil, há muito tempo, deixou de estimular a formação de oficiais de alfaiate. Uma profissão que teve seu auge nas décadas de 1930, 40 e 50, mas que, de lá para cá, começou a minguar em termos de quantidade”.
E lembrou dois fatos: O primeiro foi quando aqui estiveram representantes norte-americanos do famoso Ponto Quatro. Ao visitarem a Escola Técnica torceram o nariz quando lhes foi apresentado o curso de oficial de alfaiate, que precisava de recursos para se manter, negando qualquer tipo de apoio. Foi uma espécie de tiro de misericórdia disparado por pessoas insensíveis”.
E na sequência citou o curioso fato da importação pelos Estados Unidos de centenas de alfaiates da Itália para não deixar morrer a profissão, como já havia relatado em entrevista à revista Veja Paraná.
Ao finalizar, sugeriu estímulos aos jovens aprendizes por parte do Governo Federal: “Se não se pode resolver os grandes problemas que afligem a Nação, solucionar alguns menores pode ser um grande passo”.
Jorge Zaruch e Cypriano Zaruch deixaram sua marca de competência na Cidade de Curitiba.
Parabéns. Linda trajetória e lembrança melhor ainda!