Céu claro, 11,3 horas de brilho solar


Edifício da Universidade do Paraná, o chamado Palácio da Luz, em sua arquitetura original
Foto: site UFPR

Anos atrás, ao escrever a história do Instituto de Engenharia do Paraná, resolvi agregar ao texto sobre a data da fundação – 6 de fevereiro de 1926 – a previsão do tempo para aquele dia.

Era um detalhe pequeno, mas ilustrativo, um algo mais à pesquisa.

Normalmente, a previsão do tempo era publicada nos jornais. Mas justamente naquela semana, e na seguinte, talvez em função do Carnaval, os dados foram omitidos.

Resolvi, então, me informar junto ao escritório do serviço de meteorologia no Paraná. E um simples dado motivou um emaranhado burocrático, cujos personagens deixo de nominar porque a eles não coube a culpa, acredito, mas sim à burocracia e aos vícios do serviço público.

O assunto foi tratado com ares de segredo de Estado.

Começou com um telefonema e seguiu por email. O funcionário que retornou meu pedido não foi o mesmo a quem solicitei. A primeira resposta: “Prezado Júlio, o ano é mesmo 1926? Se for, talvez você consiga alguma informação nos jornais da época. Outra opção é tentar obter os dados registrados neste dia junto ao INMET, já que a estação meteorológica de Curitiba é muito antiga (Início da operação em 01/01/1911), segundo consta no site do INMET. Segundo consta, a mesma mudou de lugar algumas vezes”.

Passado algum tempo, e o pedido correndo pelos escaninhos das repartições, de Curitiba para Brasília: “Fwd: [informação sobre tempo para pesquisa]
Prezada R…, Conforme contato ontem via voip, segue abaixo solicitação.”

Outro despacho: “Assunto: ENC: [Fwd: informação sobre tempo para pesquisa 8º Disme]. Bom dia, Dr…. Favor analisar o pedido de liberação para consultar os dados do 8º Disme. Aguardamos autorização para habilitar a consulta do usuário no SIM”.

E seguiu: “C, bom dia: sol fornecer os dados de 6/2/1926*, da EsMet Curitiba, para a Seoma/8Disme”.

“S, bom dia: autorizo que os dados em questão, sejam fornecidos sem ônus para o solicitante”. (Assina o coordenador).

E, finalmente: “Conforme solicitado pela Seoma do 8° Disme e autorizado pelo Coordenador Geral de Agrometeorologia (segue-se o nome do cidadão), informo-lhe que segundo os registros encontrados em nosso arquivo retirados do Livro M1 as informações para da Estação Meteorológica de Curitiba/PR no dia 06 de fevereiro de 1926 são:

– A temperatura do Ar às 07h00minh foi de 16,5°C; às 14h00minh 23,4°C e às 21h00minh 15,9°C.

– A Temperatura Máxima foi de 24,6°C e a Temperatura Mínima 12,8°C.

– Neste dia o céu esteve claro com 11,3 horas de Brilho Solar”.

Agradeço a todos os que contribuíram com as informações. Graças a isso foi possível desvendar tão profundo mistério.

 Um encontro de pioneiros

Com os dados da meteorologia, ficou assim o primeiro capítulo de “Instituto de Engenharia do Paraná – Um pioneiro a caminho do centenário”:

Ao cair da tarde do sábado 6 de fevereiro de 1926, os convidados vão chegando. Dirigem-se ao salão nobre da Faculdade de Engenharia, no prédio histórico da Universidade do Paraná, fronteiro à praça Santos Andrade. O acesso é pela porta da rua 15 de Novembro.

Aquele dia do verão curitibano começou fresco: 16,5ºC às sete da manhã; no meio da tarde, porém, a temperatura atingiu seu ponto máximo, 24,6ºC, para desabar, novamente, às 21h, até os 15,9ºC. “Nesse dia, o céu esteve claro com 11,3 horas de brilho solar”, conforme registrou a Estação Meteorológica de Curitiba.

Plínio Tourinho, o coordenador da criação do IEP

Logo seria Carnaval. A cidade já se preparava, embora discretamente, para a folia, uma semana depois, mas aqueles senhores tinham coisas muito sérias a tratar. Quarenta e seis engenheiros e professores e cinco acadêmicos de Engenharia, liderados pelo diretor da Faculdade, Plínio Alves Monteiro Tourinho, se reuniam para criar uma associação profissional que teria participação importante na vida paranaense pelas próximas nove décadas.

Lá estavam: Plínio Tourinho, Afonso Augusto Teixeira de Freitas, Ademaro Munhoz, Abacílio Fulgêncio dos Reis, Carlos Ross, Durval de Araújo Ribeiro, Alexandre Gutierrez Beltrão, Eduardo de Carvalho Chaves, Francisco Ferreira Pereira, Artur Xavier Moreira, Juvêncio Correia de Araújo, Eduardo Fernando Chaves, Raul de Azevedo Macedo, Djalma Maciel, Roberto Pimentel, Raphael Klier D’Assumpção, Joaquim Sampaio Neto, Emílio Müller Neiva de Lima, João Paz Raymundo Filho, João Teodoro de Andrade Assunção, Osvaldo Pereira de Lacerda, Sebastião Gomes de Faria Junior, Newton Balster Viana, José Brasil Valério, Gabriel de Souza Aguiar, Gastão Chaves, João Cândido Filho, Luiz Ciruelos, Acrísio Lago Marques, Ivaí Martins, Caio Graco Pereira, Lúcio Pereira Junior, Dario Dergint, Artur Lins de Vasconcelos Lopes, Frederico Perracini, Hengreville Hintz, Sérgio Valério, Algacyr Munhoz Maeder, Ângelo Lopes, Walter Scott de Castro Velloso, Arnaldo Izidoro Beckert, José Maria Carneiro de Loiola, Agnelo Ribeiro Ribas, Máximo Azinelli, Olívio Mieli e Altamirano Nunes Pereira.

E os acadêmicos: Benjamin Mourão, Ari Saldanha da Costa, Hipérides Zanello, Alberto Ribeiro Paz e Carlos Schultz.

Na mesa principal, coordenando o encontro, os engenheiros Plínio Tourinho, Afonso Teixeira de Freitas, Álvaro Munhoz e Altamirano Nunes Pereira, que secretaria a reunião. Plínio, Affonso e Ademaro Munhoz são escolhidos para compor a comissão de organização dos estatutos.

Uma das primeiras providências dos presentes foi aprovar, por proposição de Altamirano Nunes Pereira, um voto de reconhecimento ao deputado Hernani Nogueira Zaina, militar e engenheiro, que havia apresentado, no Congresso Legislativo do Paraná (hoje Assembleia Legislativa), projeto de lei regulamentando as profissões de engenheiro, arquiteto e agrimensor.

Esse projeto pode ser considerado como a primeira grande conquista do IEP em sua história. Minutado por membros do grupo pioneiro, sob a batuta de Plínio Tourinho, transforma-se, pouco depois, na Lei Estadual nº 2.384, de 10 de março de 1926.

Em ambiente de bom astral, ao final de um dia quente e de muito brilho solar, começa a nascer, entre as paredes da hoje centenária Universidade, o Instituto de Engenharia do Paraná (IEP).

 

 

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