Os mortos de La Chacarita

Túmulo-memorial de Carlos Gardel/fotos: JZ

Numa de minhas viagens a Buenos Aires, na segunda metade dos anos 1990, aproveitei para conhecer o cemitério da Chacarita, onde foram sepultados mortos ilustres, entre eles Carlos Gardel, ídolo do tango, e Juan Domingo Perón, ex-presidente da Argentina.

La Chacarita é o maior cemitério de Buenos Aires, tem alamedas de árvores frondosas e belas esculturas, embora seja menos famoso do que o da Recoleta, onde estão os restos mortais de Evita Perón, segunda esposa do caudilho, chamada de “a madona dos descamisados”. Chega-se ali facilmente pela linha vermelha do metrô, descendo na estação Frederico Lacroze, via que dá nome ao prolongamento da avenida Corrientes.

O corpo de Perón foi inicialmente enterrado nos jardins da residência oficial de Olivos, nos arredores da capital portenha – para onde se mudou há pouco o exótico presidente Javier Milei -, e mais tarde transferido para La Chacarita. Em outubro de 2006, por iniciativa da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), foi levado para uma quinta (propriedade rural) de 19 hectares na cidade de San Vicente, na província de Buenos Aires, que no passado foi uma espécie de refúgio dele e de Evita. Ali, ao que parece, descansará pela Eternidade.

Jazigo da família Perón, agora sem o corpo do caudilho

Mas no dia de minha visita ao La Chacarita, o jazigo de Perón estava em obras. Uma placa anunciava a restauração do lugar por conta das verbas do Ministério do Interior da Argentina, com a curadoria de Alejandro Perón.

Diante do túmulo, um cidadão dava ordens a operários. Era o próprio. Perguntei-lhe o que era do generalíssimo.

– Nieto – respondeu.

– Nieto? – eu disse, surpreso, pois Perón não tivera filhos.

– Sobrino-nieto – corrigiu rapidamente.

Perguntei-lhe, então, se havia problemas em fotografar o túmulo, embora a rua interna do cemitério fosse estreita e não permitisse um bom ângulo.

Ele disse que não. Fiz algumas fotos.

Alejandro Perón não me perguntou quem eu era ou o porquê das fotos. Nem eu lhe disse.

Agradeci, virei as costas e fui procurar o túmulo de Gardel.

Gardel em tamanho natural domina a cena

Carlos Gardel, que morreu em 1935, aos 45 anos (ou 48, segundo alguns), está sepultado na esquina das ruas 14 com a Diagonal 113 do La Chacarita. Seu túmulo impressiona pela quantidade de mensagens em placas de bronze e de metal. É um verdadeiro memorial. A gravadora RCA Victor registra “25 anos de ausência”; Carolina agradece “haberme concedido o que lhe pedi”; Armando, um amigo, lhe dedica um imenso medalhão em bronze com seu retrato; Suzana fixou uma pequena placa; o Clube de Tango de Toulouse presta homenagens a “Gardel y a su madre”. E assim por diante.

Uma estátua de Gardel em tamanho natural (1,71 metro) domina a cena. Há até uma história de uma fã que, diariamente, coloca um cigarro aceso na mão direita do artista. Outros engancham ramos de cravos entre os dedos da esquerda.

Don Carlos segue vivo, dizem os argentinos.

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