A última obra de Manoel Carlos Karam

Karam: obra póstuma à espera de apoiadores
Foto: Glória Flügel

Manoel Carlos Karam. Um talento do tamanho do seu caráter. Ou vice-versa. Uma das melhores pessoas que conheci. Trabalhamos juntos no jornal O Estado do Paraná, sob o comando do jornalista Mussa José Assis, e na Comunicação Social da Prefeitura, em várias gestões de prefeitos.

Interessante é que o temperamento discreto do Karam funcionava como uma espécie de véu que encobria sua competência e sua vida pessoal. Sempre de bom humor, mesmo nas adversidades, tocava o dia-a-dia com suas tiradas inteligentes, seu trabalho eficiente, ao mesmo tempo em que tecia sua obra, suas crônicas, seus livros, suas peças de teatro.

Seu texto era preciso. Corretíssimo. Sua vida profissional sempre num crescendo. Lembro do tempo em que produzia o melhor telejornal da antiga TV Paranaense Canal 12, atual RPCTV, o Jornal da Noite, que dava um banho nas edições matutina e do meio do dia e na concorrência.

Karam morreu precocemente. Num dezembro de quase onze anos atrás. De câncer no pulmão. Tinha 60 anos de idade, 41 de Curitiba. Veio da catarinense Rio do Sul, onde nasceu em 25/4/1947, para vencer na vida e deixar um legado cultural e pessoal de alto quilate.

Estreou em livro com Fontes Murmurantes, em 1985, que desfiou um rol de títulos intrigantes: O impostor no baile de máscaras, Cebola, Comendo bolacha Maria no dia de São Nunca, Pescoço ladeado por parafusos, Jornal da guerra contra os taedos, Um milhão de velas apagadas, Godot é uma árvore, entre outros, afora peças de teatro, vinte, que também dirigiu. Foi um dos baluartes do extinto Teatro de Bolso da praça Ruy Barbosa, devorado pelo terminal de ônibus.

Karam deixou uma obra inacabada. Chama-se Mesmas Coisas. Tem aproximadamente 400 páginas. Em razão da importância do jornalista e escritor na literatura paranaense, há uma campanha de arrecadação de fundos para editá-la, organizada pelo Catarse, a primeira plataforma de crowdfunding (financiamento coletivo, a popular vaquinha) do Brasil.

O orçamento da obra é em torno de R$ 18 mil, dos quais até agora foram arrecadados apenas 10%. Os apoios são classificados em diversas faixas: começam em R$ 30 ou mais e vão até R$ 1 mil ou mais. Cada faixa contempla um ou vários brindes ao doador, incluindo o livro e o nome na lista dos apoiadores. Todas as informações estão em catarse.me/karam.

Manoel Carlos Karam é nome da praça de alimentação do Mercado Municipal de Curitiba e da Casa de Leitura do Parque Barigui, que abriga sua biblioteca particular. Merecia ser também nome de teatro.

Mas a certeza é que, se a vaquinha para edição de Mesmas Coisas resultar em sucesso será uma das boas homenagens que Karam poderia receber. Um preito a um grande talento e um grande caráter.

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