Lendo hoje a coluna do Ruy Castro na Folha de São Paulo sobre assobios e assobiadores, lembrei de duas histórias onde o personagem é o Hélio Leites, poeta, performer e artista plástico curitibano de múltiplas facetas, que transforma lixo em obras de arte, muitas em miniaturas, e é o criador do Museu da Casa do Botão, itinerante, que transporta em uma mala. E é adepto dos assobios.
A primeira: quando editava os cadernos de domingo do jornal O Estado do Paraná, em Curitiba, entre o vasto material que chegava das agências de notícias, recebi, perdida entre várias outras, uma pequena nota que informava a inauguração, “em breve”, de um “assobiódromo” numa cidade da Grã-Bretanha, de cujo nome não me lembro. O ato reuniria, no local recém construído, um grande número de adeptos do assobio em uma espécie de concurso.
Recortei a nota e a e enviei ao Hélio. Semanas depois, para minha surpresa, recebo um cartão postal daquela cidade britânica.
Ele havia ido à inauguração.
A outra: o cronista mineiro Fernando Sabino, autor do famoso romance Encontro Marcado e de tantos livros de crônicas, concedia uma tarde/noite de autógrafos na antiga Livraria Ghignone, no centro de Curitiba.
Diante da mesa, uma fila enorme de admiradores do escritor, todos de livro na mão. À minha frente, o Hélio Leites.
Ao chegar sua vez de ganhar o autógrafo, ele sacou um gravador de fita e perguntou se Sabino poderia assobiar “Jesus, alegria dos homens”.
O escritor, muito simpático, levantou-se e, durante alguns minutos, assobiou a música para o gravador.
Foi aplaudido pela fila inteira.