Centro Cultural Kirchner, o endereço das artes

CCK, vizinho da Casa Rosada e do Porto Madero

Para quem vai a Buenos Aires em busca de atrações culturais, um dos endereços mais significativos é o Centro Cultural Kirchner, inaugurado há menos de dois anos (maio de 2015), considerado o maior no gênero da América Latina e o terceiro maior do mundo.

O CCK, como é conhecido, é dono de uma movimentadíssima agenda, onde pontificam concertos de música clássica e popular, a sensualidade do tango, teatro e cinema, as artes visuais, que projetam artistas plásticos e resgatam a história, como, por exemplo, na exposição em cartaz dedicada aos 200 anos de vida independente da Argentina, seu passado, presente e as projeções para o futuro.

O Centro Cultural é mais um item para o turista anotar em sua programação de visitas na capital portenha, onde também devem constar os clássicos itinerários do tango, da calle Florida, do teatro Colón, dos bosques de Palermo, de Gardel e Evita, de Borges, Cortázar e Piazzolla, da feira de San Telmo, da Recoleta e de tantas coisas mais.

O espaço cultural ocupa o prédio histórico do Palácio dos Correios e Telégrafos, cujas obras de restauração foram iniciadas em 2009, ainda no governo do presidente Néstor Kirchner e deveriam dar origem ao Centro Cultural do Bicentenário, em alusão à Revolução de Maio, de 1810, movimento que marcou o início do processo da independência argentina do jugo espanhol. Néstor morreu do coração em outubro de 2010, aos 60 anos de idade. Sua viúva, a já presidente Cristina Fernández de Kirchner, continuou as obras e decidiu dar ao centro o nome do marido.

No início do governo de Maurício Macri, alguém sugeriu ao novo presidente argentino mudar o nome do centro cultural, mas a ideia não vingou.

O projeto original do histórico prédio é do arquiteto francês Norbert-Auguste Maillart, que se instalou em Buenos Aires em 1887; no ano seguinte, foram iniciados, por ordem do então presidente Miguel Juárez Celman, os procedimentos para a obra, cujo projeto sofreu várias modificações. O prédio foi concluído em 1928, depois de 40 anos, sendo inaugurado pelo presidente Marcelo Torquato de Alvear, ao final de seu mandato. Os Correios funcionaram ali até 2002.

Os preparativos para a restauração do Palácio dos Correios começaram em 2006, com uma licitação internacional da qual participaram mais de 340 escritórios de arquitetura de mais de 20 países. Os vencedores foram os argentinos Bares y Associados (B4FS) e Becker-Ferrari. As obras de remodelação duraram cinco anos; a construção do prédio original havia levado quatro décadas.

O Centro Cultural Kirchner, localizado na calle Sarmiento, a poucos metros do Porto Madero e quase vizinho da Casa Rosada, a sede do governo argentino, tem mais de 100 mil metros quadrados e reúne em seus diversos pisos seis auditórios, uma grande sala de concertos chamada La Ballena Azul (a baleia azul), as salas Eva Perón, Argentina, entre outras, a Cúpula e a Grande Lâmpada, além de um mirante que descortina bela vista da cidade. Figura entre os mais importantes do mundo, ao lado de exemplares como L’Auditori, de Barcelona; Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, de Madri; Tate Modern, de Londres; e Centro Nacional de Arte e Cultura Georges Pompidou, de Paris.

Panorâmica do auditório principal

Destaque principal do conjunto, a La Ballena Azul é um grande auditório dedicado a concertos e com capacidade para 1.750 espectadores. Uma de suas atrações é um órgão com 56 registros e 3.500 tubos fabricado na Alemanha. O nome da sala remete ao seu formato arredondado que, com os suportes, lembra uma baleia; ocupa área equivalente a três pisos do edifício e aparenta estar suspensa no ar. O palco de 250 metros quadrados comporta até 110 músicos.

A Sala Evita fica no quarto andar, mesmo espaço em que, desde 1946 funcionou o escritório de Eva Perón (Maria Eva Duarte de Perón), mulher do presidente Juan Domingo Perón e que morreu muito jovem, aos 33 anos, em julho de 1952, de câncer. Ali, Evita, a “madona dos descamisados”, como era chamada, recebia as mulheres do povo e seus filhos, sindicalistas, políticos, ministros, governadores, operários e tantos outros. “Em meio a esse aparente caos – como descreveu um embaixador espanhol – espécie de quermesse ruidosa e confusa, Evita escutava os pedidos mais variados”. A sala recompõe, de certa maneira, o visual do escritório original, com papéis sobre as mesas, caixas de brinquedos destinados às crianças pobres – bolas, carrinhos, triciclos, bicicletas, jogos -, a montanha de cartas enviadas pelo povo, a mesa onde despachava, o conjunto de sofás onde recebia convidados e até garrafas de espumante datadas de 1952, com rótulos contendo as fotos de Perón e de Evita.

A sala Evita reproduz o escritório da ex-primeira dama

A Sala Argentina, revestida em madeira e com boa acústica, é uma espécie de “irmã menor” da Baleia Azul; fica no subsolo, comporta 534 pessoas e é dedicada à música de câmera. A Cúpula é uma estrutura de 500 metros quadrados formada por 496 vidros, dotada de lâmpadas de led que, acesas, destacam o edifício na paisagem, e são capazes de reproduzir as bandeiras de todos os países do mundo. É também um espaço multiuso. Já a Grande Lâmpada (La Gran Lámpara), situada no coração do edifício, é uma estrutura de vidro que lembra uma lâmpada; em dois níveis, num total de 900 metros quadrados, é local de exposições.

O Centro Cultural Kirchner abre de quinta-feira a domingo, das 14h às 20h, com entrada gratuita. Tem visitas guiadas de uma hora, que devem ser agendadas previamente, e uma intensa programação da palestras, exposições e espetáculos.

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