O avô que não conheci

Luiz Júlio Miguel: da pequena síria Mashta al-Helu para a pacata Campo Largo

Hoje vou falar de uma pessoa que não conheci, mas que aprendi a respeitar pelo que ouvi falar, de várias fontes, de sua personalidade, ousadia e pioneirismo: meu avô materno Luiz Júlio Miguel. Ele morreu muito cedo, aos 38 anos, num 1º de abril. De 1939. Em sua curta existência, porém, esse imigrante vindo da pequena e simpática Mashta al Helu, cidade do nordeste da Síria, deixou um legado de exemplos aos seus descendentes.

Nascido em 5 de outubro de 1901, filho de Júlio Miguel e Maria Júlio Miguel, veio ao Brasil com 13 anos, em companhia da mãe, seguindo os passos do pai e de irmãos, que aqui já estavam. A família morou inicialmente no bairro Seminário, em Curitiba e, desde cedo, seu pai o encaminhou para as atividades comerciais.

Anos depois, comprou terras em Campo Largo, no bairro de Caratuva, onde conheceu Elizabetha Joanna Andreassa, de família italiana, com quem se casou em 20 de fevereiro de 1920. Tiveram quatro filhos: Manif, Maria (minha mãe), Messias e Vacila.

De espírito empreendedor, Luiz Júlio instalou seu comércio – um armazém de secos e molhados -, que prosperou no atendimento das necessidades da população local. Era muito querido na região, apesar das dificuldades de assimilar plenamente os meandros da língua portuguesa. Com o tempo, adquiriu o respeito de comerciantes de Campo Largo e de Curitiba.

Seu armazém, às margens da entrada velha de Campo Largo, uma sinuosa via ladeada por grandes áreas verdes e povoada de casas de estilo – muitas estão lá até hoje – gerava oportunidades de emprego, abastecia as famílias e também os trabalhadores da mina de ouro, na época importante atividade econômica da região e que atraia gente vinda de vários pontos do Brasil.

Luiz Júlio tinha visão de futuro e acreditava na educação para melhorar a vida das pessoas. Tanto é que construiu em suas terras uma pequena escola onde, por muitos anos, funcionou o ensino de 1ª a 4ª séries do antigo curso primário.

Ao lado da escola, edificou uma casa para abrigar a professora e a família dela. Tratada como escola isolada, era mantida pela Prefeitura de Campo Largo. Nela, iniciaram estudos os seus quatro filhos e, mais tarde, três netos, filhos de Manif Júlio e de Dalvina Torres Júlio.

Com o passar dos anos, a pequena escola já não mais atendia as exigências da crescente população do local. O que levou os herdeiros de Luiz Júlio a doar ao município de Campo Largo um terreno em Caratuva para a construção de uma nova escola de ensino de 1º grau, que leva o seu nome, de acordo com a Resolução n º 3982 da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Na igreja da Rondinha, outro bairro de Campo Largo, um dos vitrais da nave também ostenta o seu nome.

 

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