Engenheiro. Homem público. Empresário. Rotariano. Líder Classista. Empreendedor. Agregador. Um construtor de caminhos. Personagem de múltiplas faces positivas. Este foi, na essência, o cidadão Cássio Bittencourt Macedo, um curitibano que fez muito pelo Paraná e que faleceu aos 95 anos, ao cair da tarde da quarta-feira 9/8/2017, na cidade onde nasceu.
Conheci o engenheiro Cássio no começo dos anos 1970, quando assumiu, pela segunda vez, a secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná, cargo que já havia ocupado no governo de Moisés Lupion (1956-1961). Em 1957, quando tomou posse, aos 35 anos de idade, a SVOP era uma super secretaria, que tinha em sua estrutura órgãos como Copel, DER, Porto de Paranaguá, aeroportos, os departamentos de Água e Esgotos, de Águas e Energia Elétrica, de Edificações e Obras Especiais, de Telecomunicações, a Estrada de Ferro Central do Paraná e um serviço de telefonia, embrião da futura Telepar.
Mais tarde, acompanhei a uma certa distância suas gestões como presidente da Apeop (Associação Paranaense dos Empresários de Obras Públicas) e do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). Como assessor de imprensa do IEP, anos depois, convivi com o engenheiro Cássio, até ser convidado pelo seu filho Cássio José, também engenheiro, para escrever um livro sobre ele.
Ao longo de vários meses de 2011, todas as terças-feiras à tarde, eu passava horas conversando com o dr. Cássio, ouvindo suas histórias, seu relato da vida paranaense de décadas anteriores. Momentos saborosos, nos quais descobri outra faceta desse homem realizador: o bom humor. O resultado foi um livro-entrevista – “Cássio Bittencourt Macedo – Um construtor de caminhos”, lançado em 13/4/2012, dia em que completou 90 anos.
OBRAS PIONEIRAS
Cássio Bittencourt Macedo nasceu em 13/4/1922, segundo filho de Raul Azevedo Macedo e de d. Damazina Bittencourt Macedo. O pai, também engenheiro, foi três vezes secretário de Viação e Obras Públicas, superintendente do Porto de Paranaguá, onde ficou nove anos, de 1937 a 1946, em pleno período da Segunda Guerra Mundial, e prefeito de Curitiba, de outubro de 1946 a janeiro de 1947.
Diplomado na turma de 1947 da Escola de Engenharia da Universidade do Paraná (depois UFPR), Cássio começou a trabalhar no ano seguinte no DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem) como engenheiro residente do 7º Distrito Rodoviário de Londrina. Tinha, então, 25 anos de idade e começava por um setor pelo qual sempre fora apaixonado – o rodoviarismo.
Já no quinto ano de Engenharia atuava como chefe do serviço do TCPT (Transporte Coletivo e Policiamento de Tráfego) do órgão, que controlava as ações da Polícia Rodoviária Estadual e fiscalizava os ônibus intermunicipais. Coordenava os patrulheiros rodoviários, quase todos mais velhos do que ele, e exercia com rigor a fiscalização do transporte coletivo.
Em Londrina, como chefe da 7ª Residência do DER, Cássio executou os primeiros quilômetros da pavimentação da rodovia que liga a cidade a Cornélio Procópio; na época o asfalto era produto importado e só podia ser comprado com a autorização do governo federal.
Em 1956, o prefeito de Londrina, Antonio Fernandes Sobrinho, um paulista de São José do Rio Preto, conhecendo e admirando seu trabalho, convidou-o para assumir o Departamento de Obras e Planejamento da cidade.
Nos quase dois anos em que dirigiu o Departamento, Cássio conduziu a construção de importantes obras para Londrina, como a Concha Acústica na praça principal, cujo entorno foi todo pavimentado, e um estádio de futebol, dando nova estrutura a “um campinho de futebol utilizado em disputas entre funcionários da Cerâmica Mortari e por times de futebol amador de Londrina”. Construiu a primeira parte das arquibancadas. O estádio recebeu o nome de Capitão Aquiles Pimpão, mudado em 1954 para Vitorino Gonçalves Dias, conforme consta do site da Prefeitura da cidade. Em gestões seguintes, foi ampliado e reformado.
Criou também um plano comunitário de pavimentação, que espalhou asfalto por várias ruas da cidade, sempre com adesão quase total dos moradores.
Mas a obra mais emblemática de sua gestão foi a construção do Lago Igapó, que sugeriu ao prefeito como forma de amenizar o forte calor, marca registrada da cidade. Com a autorização do prefeito e logo que recebeu o projeto da barragem, Cássio iniciou as obras por administração direta, com os operários da própria Prefeitura trabalhando no represamento do ribeirão Cambezinho, um dos dez cursos d’água que formam a bacia hidrográfica da região. Em dois anos surgiu o lago Igapó, inaugurado dia 10 de dezembro de 1959.
Mas na fase final das obras, Cássio Macedo já cumpria outra missão: aos 35 anos, fora designado pelo então governador Moisés Lupion como secretário de Viação e Obras Públicas, cargo ao qual seria reconduzido em 1971.
VIDA CLASSISTA
Além de homem público bem sucedido, Cássio Bittencourt Macedo foi empresário do ramo da construção de estradas, dirigente classista – presidiu a Apeop (Associação Paranaense de Empresários de Obras Públicas) e o Instituto de Engenharia do Paraná, do qual seu pai foi um dos fundadores. Foi também o responsável técnico pela implantação da usina hidrelétrica de Segredo, no rio Iguaçu.
Como rotariano, foi fundador do Rotary Clube Curitiba –Leste, que também presidiu, e governador do Distrito 464 do Rotary, em 1975/1976.
Cássio era membro nato dos Conselhos Consultivos do IEP e da Apeop, tendo integrado também o Conselho Consultivo da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), representando o Sicepot (Sindicato da Indústria da Construção Pesada), onde foi vice-presidente durante seis anos.
Em 1999, foi homenageado pela Fiep com a Medalha do Mérito Industrial; em 2000, foi Destaque em Obras Públicas e em 2003, o Engenheiro ao Ano, ambos títulos conferidos pelo IEP, que lhe outorgou o troféu Paraná de Engenharia. Em mais de 2006, recebeu o título de Vulto Emérito de Curitiba, conferido pela Câmara Municipal; e em 2010, a Medalha do Mérito do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná.
Nos últimos anos, Cássio Bittencourt Macedo sofreu com problemas de visão. Um glaucoma que não era proveniente de diabetes. Tentou todos os recursos para curá-lo. Nem isso, porém, abalou seu bom humor. Ele sempre tinha uma palavra amiga para quem o visitava e, quando menos se esperava, sacava uma das anedotas de seu imenso arsenal. Uma boa conversa o deixava sempre muito animado. Sua lucidez o acompanhou até o final.
UMA PEQUENA HISTÓRIA
Cássio Macedo era um engenheiro, um técnico, não tinha militância política, mas, a convite do então coronel Luiz Carlos Pereira Tourinho, quando este dirigia do DER, foi filiado ao PSP (Partido Social Progressista), desde os tempos de Londrina.
Tourinho era o presidente regional do PSP, que tinha no comando nacional o ex-governador de São Paulo Ademar de Barros, que mais tarde voltaria ao cargo e seria também candidato à Presidência da República, derrotado, com o marechal Lott, por Jânio Quadros.
Em meados de 1958, o PSP rompeu com o governador Moisés Lupion, do PSD (Partido Social Democrático). Cássio, então, apresentou seu pedido de demissão. Lupion, que gostava muito do seu trabalho, ficou indeciso, mas era necessário cumprir os rituais político-partidários. Aceitou, mas com uma única condição: que o substituto de Cássio fosse seu pai, também engenheiro e que já tinha sido titular da SVOP, diretor do Porto de Paranaguá e prefeito de Curitiba.
Aposentado, Raul Macedo estava em Guaratuba, onde tinha casa. Lupion mandou Cássio em seu próprio carro oficial buscá-lo. Encontrou o pai consertando o telhado. O homem achou que era brincadeira do filho e só se convenceu quando viu o carro do Palácio do Governo e o motorista, que já conhecia.
Assumiu dias depois e, na posse, em tom humorado, comentou que “negócio de pai para filho é bom, mas de filho para pai, nem sempre”. E pediu que Cássio o auxiliasse na missão, assumindo a direção do Departamento de Edificações e Obras Especiais da SVOP. (Capítulo do livro “Cássio Bittencourt Macedo – Um construtor de caminhos”)