Do livro “O prédio do Gymnásio (1903-1990)” – que comprei há alguns dias num sebo -, de autoria do professor Ernani Costa Straube, sobre o antigo Ginásio Paranaense (hoje Colégio Estadual do Paraná), que funcionou no prédio histórico da rua Ébano Pereira (que então se chamava Borges de Macedo), atualmente ocupado pela Secretaria de Estado da Cultura. Páginas 45 a 48:
“O heroísmo fardado: Por causa de uma assoada infantil de colegiais, o capitão investe, furioso, Ginásio adentro. Essa era a manchete do jornal “A Tarde”, de 20 de abril de 1929, que prossegue: “Seria 10:30 da manhã. Pela rua Ébano Pereira passava a cavalo o capitão Dimas de Menezes. Era a hora das aulas do 1º e 2º anos do Ginásio. Meninos de 10 e 12 anos brincavam pelo passeio do estabelecimento, aguardando a chamada. À passagem do referido militar, um grupo pequeno desses meninos, no ato justificável para suas idades, começa uma pequena assuada inofensiva, dirigida ao capitão Dimas. Este, indignado, sem refletir no seu ato, sem medir as consequências, investe contra o grupo de meninos, como para espezinhá-los sob as patas do animal.
“Há pânico entre a gurizada. O grupo, apanhado em cheio, é espalhado aos trancos, caindo uns e ficando outros pisados. O oficial não se contenta. Dá rédeas ao cavalo e investe pelo portão, na ideia de fazer uma perseguição pela escada acima.
“A intervenção do diretor do ginásio: Felizmente o dr. Algacyr Mader, diretor do Ginásio, que ouvia a algazarra e gritos dos alunos, corre em auxílio dos colegiais, chegando ainda a tempo de sustar a investida do capitão Dimas de Menezes, o qual, acalmado o incidente, retira-se do patamar onde se encontrava, e toma seu destino.
“A meninada revoltara-se, porém, contra a violência, e dá-lhe uma vaia de assobios. Volta a violência do oficial, que investe furioso, saltando com o animal sobre a gurizada e ferindo, nessa ocasião, o menor Vicente José de Abreu, que tivemos a ocasião de ver, além de outros. Este foi o incidente estúpido que se passou hoje no Ginásio, conforme as declarações que colhemos na diretorias daquele estabelecimento.
“Completamente absurda e indesculpável é a atitude desse oficial, que, em vez de desculpar a infantilidade dos meninos de escola, fere-os a patadas”.
Segundo o professor Straube, o fato foi também relatado pelo jornal “O Dia”, de 21 de abril, com novos detalhes. A Congregação do Ginásio Paranaense, reunida em sessão extraordinária, repudiou o acontecimento. O protesto foi assinado por nomes ilustres de então, entre eles, Dario Persiano de Castro Vellozo, Padre Jerônimo Mazzarotto (que, anos depois, seria bispo auxiliar de Curitiba), Algacyr Munhoz Mader (mais tarde reitor da UFPR), Guido Straube e vários outros.
Ontem, como hoje, tem militar que, infelizmente, não honra a farda que veste.