O romance da Rua das Flores

Primeiro calçadão de pedestres do Brasil, implantado há 50 anos, em maio de 1972, na primeira gestão do prefeito Jaime Lerner, a Rua das Flores, em Curitiba, é o tema do romance “A Rua e a Bruma, a Régua e o Compasso”, do escritor e cartunista Dante Mendonça, que será lançado no domingo 22 de maio, no Belvedere da praça João Cândido, sede da Academia Paranaense de Letras. O evento vai das 10h às 14h.

Dante Mendonça, catarinense de Nova Trento, radicado em Curitiba desde 1970, tem uma trajetória profissional que vai de chargista a cronista, de aquarelista a escritor; ele ocupa a cadeira número 1 da Academia Paranaense de Letras. E explica o título: a Bruma da ditadura militar no país, a Régua e o Compasso do prefeito-arquiteto de Curitiba e sua turma de jovens pares de profissão, engenheiros, arquitetos, visionários, ousados, criativos. 

Engana-se quem esperar do livro um tratado histórico sobre a Rua das Flores, que no pedaço de calçadão retomou o antigo nome da rua XV de Novembro e foi palco de pintura de crianças, torre de informações, mesas e cadeiras na calçada, enfim, um cenário para o encontro e a prosa entre as pessoas, ao nível do homem a pé. 

O livro recua no tempo e desvenda a Curitiba que era, bem antes da que passou a ser na década de 1970, a partir de duas personagens centrais, Zenaide e Gérard Lauzier. Ela, de nome inspirado numa página desenhada pelo cartunista francês Gérard Lauzier para a revista Realidade, e o próprio, que vem a Curitiba abrir sua exposição na Galeria Cocaco, no mesmo dia do nascimento da Rua das Flores.  

Dante Mendonça: novo livro aborda a transformação urbana de Curitiba

No livro de Dante Mendonça, a contextualização da revolução urbana de Curitiba começa em 1949, com a vinda do maestro Xavier Cugat à cidade, para um show na Sociedade Thalia. 

Partindo da constatação de Jaime Lerner, “Curitiba é conhecida como túmulo das orquestras espanholas, porque os músicos acabavam se apaixonando por alguma polaca e aqui encerravam suas carreiras”, desfilam pelas páginas do livro as grandes orquestras, as noitadas bancadas pelo ouro verde da cafeicultura, os amores e desamores, o entrecruzar de influências desenhando a alma de uma cidade. Vão da sisudez dos colégios católicos de influência francesa, por exemplo, ao ineditismo de uma galeria de arte como a Cocaco. Do Île de France à Velha Adega, do solo de trombone para um búfalo no Passeio Público à inauguração do Teatro do Paiol por Vinícius de Moraes.  

A Rua das Flores é como o primeiro ponto da sutura da cidade diante da bruma. É um divisor de águas entre a Curitiba taciturna, encolhida, e a cidade referência no mundo. Mas é, principalmente, o despertar do curitibano para o seu cenário de vida. A partir daquelas pedras colocadas no chão, ele passou a discutir sua cidade. Para o bem ou para o mal, mas nunca mais com indiferença. 

O livro, editado pelo Sesc Paraná, tem 280 páginas, com capa e projeto gráfico de Jubal S. Dohms, fotografia da capa de Maringas Maciel; R$ 50.  

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